Aplicativo que analisa radiografia evolui e identifica outras doenças além da covid-19
08/12/2020 0 Por Redação
Em tempos de pandemia de covid-19, encontrar ferramentas para identificar mais rapidamente esta e outras doenças tem desafiado pesquisadores do mundo todo. Pois foi neste cenário que surgiu o aplicativo Marie.
Desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, ele é capaz de identificar a covid-19 por meio de uma simples radiografia.
O Marie está em testes e já apresenta resultados positivos, conta a bioinformata Paula Cristina dos Santos, uma das responsáveis pelo aplicativo.
O projeto acaba de receber a Menção Honrosa na categoria Pesquisador Sênior do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, edição 2020.
Com os estudos, usando o novo sistema, a equipe de pesquisadores tem identificado várias demarcações para além da região pulmonar, o que, garante Paula, “é interessante para a evolução desses algoritmos e até mesmo entender melhor as patologias, seja a covid-19, a tuberculose, o H1N1, doenças que também são detectadas pela plataforma”. O aplicativo, que fazia apenas uma leitura de radiografia do pulmão, agora permite aos médicos descrever sinais ou sintomas, sendo “extremamente importante, porque vai contabilizar internamente o peso de cada um dos sintomas”, antecipa a pesquisadora.
Os testes acontecem em Itapeva, Minas Gerais, cidade com pouco mais de 8,6 mil habitantes, há aproximadamente dois meses.
A tecnologia foi bem recebida pelos profissionais de saúde do município por entenderem tratar-se de “um complemento e uma forma deles se apoiarem em observações”, ressalta Paula, lembrando que a novidade apresenta significado ainda maior para os recém-formados que iniciaram atividades no meio da pandemia. Poder contar com “um suporte, uma plataforma que indica as áreas de alteração, é muito importante”, avalia.
Aplicativo está “aprendendo” a identificar outras doenças
O uso da plataforma já comprovou eficiência na leitura de radiografias de outras partes do corpo. Como exemplo, Valdirene conta sobre um paciente assintomático, cujo teste rápido para covid-19 era positivo, e as análises detectaram o problema na garganta e não no pulmão.
Para a responsável pela radiologia de Itapeva, a tecnologia só tem contribuído já que, “em cidades pequenas, não se tem muitos recursos, o que acaba dificultando muito. Em muitos lugares, podem achar que não faz tanta diferença, mas para nós é um avanço que traz muita ajuda”.
Valdirene ainda ressalta que o aplicativo tem sido muito importante neste período de combate ao novo coronavírus. Em 19 de novembro, a cidade não tinha nenhum paciente internado na UTI, e já havia descartado quase 30 suspeitas de covid-19, por critérios laboratoriais.
Daqui para frente, diz a pesquisadora, a expectativa é que o aplicativo continue evoluindo e esteja acessível para todos.
Por isso, a equipe deu mais um passo e já acertou com um órgão oficial de Santa Catarina o uso do aplicativo em parte da população carcerária do Estado.
O objetivo é diferenciar imagens radiográficas de pacientes presidiários sem patologias daqueles que apresentam alguma doença.
Paula conta que testes iniciais foram feitos, em outubro, para entender a viabilidade do projeto que será colocado em prática em janeiro do ano que vem. “Isso é extremamente importante, porque, quando encarcerados, eles podem ter recidiva, seja da tuberculose, até mesmo da covid-19.”
Os testes e a parceria com Itapeva mostraram que o aplicativo pode trazer muitos benefícios, tanto para os pacientes quanto para a equipe e o sistema de saúde. É que quando os hospitais estão lotados, com mais pacientes chegando, é preciso fazer um diagnóstico rápido, mas preciso, duas características da plataforma. “O Marie pode mudar até mesmo o fluxo de uma unidade ou de um hospital.”
Redação
Foto: EBC