Butantan desenvolve teste que detecta leptospirose em estágio inicial
15/01/2024Pesquisadores do Instituto Butantan desenvolveram uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose que se mostrou superior ao teste padrão atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda em fase inicial, a estratégia conseguiu detectar a doença em mais de 70% dos pacientes que tinham obtido resultados falsos negativos nos primeiros dias de sintoma. A leptospirose é considerada pela OMS uma doença negligenciada e subnotificada: a estimativa é que a cada ano 500 mil novos casos ocorram em todo o mundo, com uma mortalidade que pode ir de 10% a 70% em casos graves.
O estudo foi publicado na revista Tropical Medicine and Infectious Disease e os pesquisadores depositaram um pedido de patente em março de 2023. Criado pelo grupo da pesquisadora Ana Lucia Tabet Oller Nascimento, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan, o teste utiliza uma proteína quimérica recombinante, construída de forma sintética e denominada rChi2. Ela é composta por fragmentos das 10 principais proteínas de superfície da bactéria Leptospira – aquelas que o sistema imune detecta mais rápido durante uma infecção.
O novo diagnóstico também mostrou 99% de especificidade, não apresentando reação cruzada com outras doenças infecciosas como dengue, malária, HIV e Doenças de Chagas – ou seja, ele detecta especificamente os anticorpos contra leptospirose.
A estratégia do Butantan pode ajudar a identificar a doença ainda na fase inicial, possibilitando o tratamento precoce e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Futuramente, o próximo passo seria desenvolver um teste rápido (semelhante àquele da Covid-19 encontrado em farmácias, chamado de dipstick), utilizando a mesma proteína quimérica. Nesse caso, em vez de secreção nasal, a coleta poderia ser feita por meio da urina ou sangue.
“No diagnóstico convencional, chamado de MAT, o soro do paciente é colocado em contato com Leptospiras vivas que se aglutinam na presença de anticorpos [resultado positivo]. O problema é que demora mais de 10 dias para o indivíduo produzir esses anticorpos aglutinantes, dificultando a identificação precoce da doença”, explica o primeiro autor da pesquisa Luis Guilherme Virgílio Fernandes, biotecnólogo com doutorado e pós-doutorado pelo Butantan.
*Foto: Divulgação