Bahia amplia rede de assistência à saúde mental

Bahia amplia rede de assistência à saúde mental

10/09/2023 0 Por Redação

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) anunciou a instalação de 24 novos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e unidades de acolhimento na Bahia, no âmbito das ações do Setembro Amarelo – campanha nacional sobre a saúde mental e a prevenção do suicídio. A secretaria informa que as unidades, especializadas no tratamento e na reinserção social de pessoas com sofrimento ou transtornos mentais graves e persistentes, começarão a ser construídas em 2024.

De acordo com especialistas, fatores resultantes da pandemia, como isolamento social, medo e incertezas econômicas, levaram ao aumento de transtornos mentais diversos na população, com destaque para os relacionados a ansiedade e a depressão. Segundo dados da Sesab, no ano passado, foram registradas 8.688 internações por transtornos mentais e comportamentais na Bahia, número 11,3% maior que o aferido em 2019, ano anterior à pandemia, quando houve 7.805 registros. De acordo com o órgão, os casos de suicídio também registraram alta significativa no Estado, passando de 701, em 2019, para 849, em 2022 – elevação de 21%.

As novas unidades especializadas em saúde mental serão construídas dentro do Programa de Fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) na Bahia – PROSUS II –, que está sendo elaborado em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na primeira fase do programa, foram entregues, nos anos de 2019 e 2020, dez Caps. Essas unidades reforçam a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) da Bahia, que hoje conta com 327 Caps.

Além desses centros, a Sesab anunciou a construção de 42 novas Unidades Básicas de Saúde e 38 Unidades Básicas de Saúde Indígenas (UBSi), que também integram a rede de atendimento para distúrbios mentais. “O investimento faz parte de uma estratégia de podermos ampliar ainda mais o acesso do cidadão à assistência à saúde”, aponta a secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana.

O psicólogo André Bonfim Dias, técnico da coordenação de saúde mental da Sesab, explica que o Estado tem o papel de monitoramento, suporte técnico e organização das redes de saúde. “No desenho da assistência da rede existem, entre outros serviços, as unidades básicas, os Caps e os hospitais gerais”, elenca. “A necessidade do paciente é que vai definir qual tipo de serviço será o mais indicado.”

De acordo com o psicólogo, as questões mais leves associadas à saúde mental podem ser resolvidas na atenção básica, as questões de média complexidade podem ser atendidas nos ambulatórios especializados e as questões mais graves devem ser atendidas nos Caps. “Existem ainda os casos de emergência, nos quais o paciente deve ser encaminhado para unidades hospitalares”, afirma.

Mais família, menos internações

Os hospitais vinculados à Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), em gestão direta ou indireta, contam com 250 vagas de internação em saúde mental, em unidades gerais (70) e em unidades especializadas (180) em Salvador e no interior.

Em unidades gerais, os leitos estão distribuídos no Hospital Geral do Estado (8) e Professor Eládio Lassérre (4), em Salvador; Crescêncio Silveira (22), em Vitória da Conquista; Geral Prado Valadares (12), em Jequié; Regional Costa do Cacau (8), em Ilhéus; Regional Piemonte do Paraguaçu (4), em Itaberaba; Regional da Chapada (4), em Seabra (4); Paulo Afonso (4) e Jaguaquara (4).

Nas unidades especializadas, são 96 leitos no Hospital Juliano Moreira (HJM) e 30 no Especializado Mario Leal (HEML), ambos em Salvador, e 54 no Especializado Lopes Rodrigues (HELR), em Feira de Santana. As três unidades também dispõem de Emergência 24 horas, com 4 leitos no HJM, 8 no HEML e 11 no HELR. O HJM e o HELR ainda contam com lares abrigados, com 12 e 6 leitos, respectivamente.

Até junho deste ano, foram realizadas 3.584 internações por transtornos mentais e comportamentais. Em 2022, o número chegou a 8.688, cerca de 11% a mais que em 2019, ano anterior à pandemia de Covid-19, quando foram 7.805.

Apesar da disponibilidade de leitos, o psicólogo André Bonfim Dias, técnico da coordenação de saúde mental da Sesab, explica que as internações devem ser feitas apenas em casos específicos e por curtos períodos. “A ciência observou que a internação por longos períodos é muito danosa, que estar em isolamento é ruim para o paciente”, informa. “Como melhorar a saúde mental de uma pessoa deixando ela trancada? Antes, se entendia que a pessoa tinha que ser retirada do convívio, mas essa é uma ideia que já mudou.”

Ele acrescenta que a legislação prevê a redução programada de leitos psiquiátricos de longa permanência, incentivando que as internações psiquiátricas, quando necessárias, se deem no âmbito dos hospitais gerais e que sejam de curta duração.

Os profissionais que atuam na área de saúde mental ressaltam que, em vez de internação, é necessário o envolvimento da família no tratamento do paciente com algum tipo de transtorno. Dias destaca que a cultura da inclusão é essencial para o sucesso do tratamento. “Podemos fazer um paralelo com outras doenças, como hipertensão: não se afasta um paciente com hipertensão do convívio familiar”, explica o psicólogo. “Ao contrário, é essencial a participação e o engajamento dos familiares no processo de acompanhamento e tratamento.”

Preconceito

Uma das barreiras que os pacientes enfrentam para receber cuidados para a saúde mental é o preconceito. “Eu achava que o Caps era um lugar para atender só usuários de drogas e aqueles com pouca sanidade mental”, conta o marceneiro Luiz Júnior. “Depois que comecei meu tratamento, vi que estava errado. Venci o preconceito e tenho uma assistência muito humanizada. Sou abraçado pelos profissionais e pelos outros pacientes como se fossem da minha família.”

O marceneiro é paciente do Caps Armação, inaugurado em 2019, na capital baiana. O centro proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento 24 horas, incluindo feriados e fins de semana, e, como os demais, conta com equipes profissionais interdisciplinares. As unidades contam com médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, além de toda uma equipe de apoio.

O educador físico Renato Franco, que atua em um Caps do município de Maracás, explica que cada paciente tem atendimento e tratamento personalizados, que inclui atividades físicas adaptadas à realidade de cada um, sempre respeitando seus limites. “Esses momentos são parte do tratamento e contribuem para a evolução e a estabilidade emocional”, conta. “A atividade física é capaz de agir na prevenção das doenças crônicas, melhorando significativamente a qualidade de vida.”

Rosângela Santos Costa, de 40 anos, é uma das que aproveita as atividades físicas que também são oferecidas no Caps Armação. “Tenho de me movimentar para continuar bem com minha saúde”, afirma. Acompanhada em unidades de saúde há mais de 15 anos, ela conta que a rotina de atividades contribuiu para a evolução de seu quadro. “Hoje não tenho mais episódios em que necessite ser internada e consigo ter uma boa vida social.”

Paciente do Caps Armação, em Salvador, o marceneiro Luiz Júnior concorda. “Apesar de morar sozinho, acredito que sem a ajuda do meu pai eu não estaria no nível de desenvolvimento que estou hoje”, pondera.

Onde buscar ajuda

– Espalhados pelo Estado, os 327 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) podem atender aos pacientes por demanda espontânea ou mediante encaminhamento de outra unidade de saúde;

– Em caso de urgências e emergências, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pode ser contatado pelo telefone 192;

– O Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (Neps) atende mediante agendamento, pelo tel.:  (71) 3103-4343;

– O Centro de Valorização da Vida (CVV) atende pelo número 188. As ligações são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica, fixa ou celular. 

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