Tecnologia blockchain pode reduzir risco de roubos e fraudes na área da saúde
30/05/2023
Um estudo da Escola Politécnica (Poli) da USP propôs uma arquitetura para rastrear medicamentos hospitalares utilizando blockchain, uma tecnologia de dados encadeados que não depende de uma autoridade central. O pesquisador Rodrigo Spessoto Aranda, orientado pelo professor Carlos Eduardo Cugnasca, redigiu a dissertação que identifica a necessidade do aprimoramento de arquiteturas para cadastrar e acompanhar medicamentos e outros materiais da área de saúde, desde a fabricação, passando pela distribuição, até o consumo pelos pacientes.
Em redes automatizadas com essa tecnologia, o registro de informações é feito de forma imutável. Cada informação é adicionada a um bloco, que é conectado a outros em uma cadeia, formando assim um blockchain, corrente cujos elos são blocos inseparáveis.
Uma informação a ser registrada no blockchain precisa ser validada por um conjunto de usuários da rede, os mineradores, que usam computadores para resolver problemas matemáticos complexos. Quando encontram a solução correta, validam o bloco de informações. Uma vez validado, o bloco é adicionado à cadeia existente, criando uma cópia distribuída e imutável das informações para toda a rede. Isso significa que qualquer alteração na informação registrada seria imediatamente detectada e rejeitada.
O pesquisador, que atua no gerenciamento de produtos hospitalares, comparou os principais requisitos das blockchains já existentes. Assim, elaborou um modelo conceitual que apresenta a validade e o lote dos produtos para identificar os que são adulterados, duplicados, roubados ou falsificados. Para isso, utilizou como base o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM), cuja arquitetura foi expandida na pesquisa para que a tecnologia cobrisse todas as etapas desde o produtor. O SNCM foi concebido em 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas a sua implementação vem sendo adiada desde então. A rastreabilidade por meio do modelo do SNCM, porém, dependia de estágios manuais e do uso de selos.
O modelo proposto no estudo inclui a integração, processamento e validação dos dados e a visibilidade para alguns stakeholders. Estes seriam usuários que poderiam consultar os registros caso houvesse alguma dúvida ou desconfiança sobre determinado suprimento da cadeia, como governo, indústrias, distribuidoras, operadoras de saúde, hospitais, médicos e pesquisadores.
Essa tecnologia já é usada em diversas aplicações, como em criptomoedas (moedas digitais), registros de propriedade e autenticação de documentos. Rodrigo Aranda propôs um modelo para garantir essa transparência e segurança também nas transações realizadas na compra, na venda e no consumo de medicamentos.
Há outros materiais hospitalares de alto custo além de fármacos. “Por exemplo, há parafusos de próteses que custam R$ 6 mil e outros muito parecidos que custam R$ 300. Se um paciente ou um convênio é cobrado por isso, por que não garantir que ele realmente o utilizou?”, conta o pesquisador.
Além disso, há outras questões de segurança e de negócios envolvidas nessa implantação, como ele explica. “O consumidor final poderia ter no prontuário uma restrição a um medicamento que, mesmo assim, foi prescrito e aplicado. Se isso piorar o estado do paciente e aumentar a estadia dele em alguns dias, a rastreabilidade do medicamento possibilitaria monitorar isso. A operadora de saúde não iria pagar por esses dias a mais de estadia, tendo o hospital que arcar com isso. Se esse paciente evoluir a óbito, haveria outras entidades envolvidas, como seguradoras, que teriam como justificar ou não o pagamento de um prêmio.” Dessa forma, diversas entidades e pessoas seriam beneficiadas indiretamente, garantindo inclusive que o medicamento usado é verdadeiro e que não foi roubado, falsificado ou adulterado. Com as informações da USP
*Foto: Pixabay