Como saber se uma lesão de pele pode ser sinal da varíola dos macacos
18/08/2022
A varíola dos macacos é, na maioria das vezes, uma doença autolimitada, com sinais e sintomas que duram de duas a quatro semanas. O período de incubação, fase em que a pessoa não apresenta sintomas, dura em média de 6 a 13 dias, mas pode chegar a 21 dias.
As manifestações clínicas habitualmente incluem lesões na pele na forma de bolhas ou feridas que podem aparecer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais.
No entanto, o surto atual da doença tem apresentado características epidemiológicas diferentes, com sintomas que podem ser bastante discretos, o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico adequado.
Conheça os principais sinais da doença, a definição de caso suspeito e saiba quem deve buscar o teste de diagnóstico.
Na forma mais comum documentada da doença, os sintomas podem surgir a partir do sétimo dia com uma febre súbita e intensa. São comuns sinais como dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e principalmente o aparecimento de inchaço de gânglios, que pode acontecer tanto no pescoço e na região axilar como na parte genital.
Já a manifestação na pele ocorre entre um e três dias após os sintomas iniciais. Os sinais passam por diferentes estágios: mácula (pequenas manchas), pápula (feridas pequenas semelhantes a espinhas), vesícula (pequenas bolhas), pústula (bolha com a presença de pus) e crosta (que são as cascas de cicatrização).
Como saber se uma lesão de pele pode ser monkeypox
No quadro clínico típico da doença, as lesões na pele formam bolhas em diversas partes do corpo. No entanto, os sintomas causados pela monkeypox no surto atual têm variado bastante de uma pessoa para outra segundo infectologistas.
Em alguns pacientes, as feridas podem surgir apenas na área genital ou do ânus e não se espalham pelo corpo. Em outros, é comum a identificação de uma lesão única. Infectologistas apontam que no surto atual, diferentemente da descrição inicial da doença na África, as feridas também podem aparecer em diferentes estágios de desenvolvimento. Além disso, há relatos de aparecimento de lesões antes do início da febre, mal-estar e outros sintomas da doença.
“A apresentação clínica da monkeypox no surto atual está bem variada. Há pacientes com lesão única, com lesão múltipla, restrita à região genital ou com lesões no corpo inteiro. A lesões estão se manifestando de forma assíncrona também. Na característica anterior, elas estavam todas na mesma fase de evolução, quando uma entrava na fase de formar casquinhas, todas entravam também”, explica a médica infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
A correlação entre o sintoma e a possibilidade de ser varíola dos macacos deve ser feita por profissional de saúde. Na consulta, o médico considera informações epidemiológicas como o contato com casos suspeitos ou confirmados da doença e o histórico de contato íntimo com parceiros casuais antes da manifestação sintomática. Com base nesses registros coletados durante a consulta, o especialista poderá fazer o pedido de teste de diagnóstico.
Um estudo realizado na Espanha aponta que em vez da tradicional manifestação na pele na forma de bolhas ou grandes lesões, a doença pode causar feridas menores, chamadas pápulas ou pseudopústulas (veja imagem abaixo), que podem estar concentradas no local onde ocorreu a infecção, como a região genital.
A pesquisa, conduzida por especialistas de diversos hospitais espanhóis, contou com a participação de 185 pacientes. A análise aponta que a maioria dos casos iniciou com pápulas homogêneas, e não pústulas que são maiores e com pus, localizadas na provável área de infecção, podendo ser cutâneas ou mucosas, incluindo lesões únicas.
Definição de caso suspeito
Diante de sinais suspeitos da doença, deve-se buscar atendimento especializado para a realização do diagnóstico laboratorial. O Ministério da Saúde recomenda que o teste seja feito em todos os pacientes com suspeita da doença e que o isolamento deve começar antes mesmo do resultado dos exames.
Em nota técnica com orientações para as equipes da Atenção Primária à Saúde (APS) divulgada no último dia 5, a pasta recomenda que pessoas com lesão de pele característica ou que preencham um ou mais dos critérios epidemiológicos definidos no conceito de caso suspeito devem ser testadas.
De acordo com o documento, um caso suspeito é definido pela apresentação de início súbito de erupção cutânea aguda sugestiva de monkeypox. A lesão pode ser única ou múltipla, em qualquer parte do corpo, incluindo a região genital, associada ou não ao aumento de tamanho dos gânglios (adenomegalia) ou relato de febre.
Além disso, os profissionais de saúde devem considerar informações epidemiológicas que podem direcionar o pedido de exame, como o contato com casos suspeitos ou confirmados, ou histórico de contato íntimo com desconhecidos ou parceiros casuais nos últimos 21 dias que antecederam o início dos sinais.
“Já atendi paciente no consultório que tinha lesão na região genital e que relatou ter tido contato com paciente que havia passado no Emílio Ribas e confirmado monkeypox. Epidemiologicamente, há praticamente uma certeza, mas como se tratam de lesões com características parecidas com outras infecções, como herpes, é importante a realização do PCR para fazer o diagnóstico certeiro”, afirma Mirian.
Isolamento e cuidados
Crianças, gestantes e pessoas com deficiências imunológicas podem apresentar risco de sintomas mais graves. O Ministério da Saúde recomenda que os cuidados voltados para essa população de risco sem sinais de gravidade, incluindo o local de isolamento desta população, devem ser analisados caso a caso.
Em relação aos pacientes com bom estado geral, que não fazem parte da população de risco, recomenda-se que seja prescrito tratamento dos sintomas. O paciente deve permanecer isolado, preferencialmente em ambiente domiciliar, até a liberação dos resultados laboratoriais. Nesse momento, o paciente deve passar por nova avaliação médica e receber orientações quanto ao tratamento.
As lesões na pele devem ser cobertas o máximo possível, com o uso de camisas de mangas compridas e calças, também para minimizar o risco de contato com outras pessoas. As roupas devem ser trocadas se ficarem úmidas e higienizadas de maneira separada. Para evitar o risco de contaminação de outras partes do próprio corpo, o paciente deve evitar tocar nas feridas e não levar as mãos à boca e aos olhos, por exemplo.
O médico Demetrius Montenegro, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), orienta que as bolhas, características da doença, não devem ser estouradas. A higienização da pele e das lesões pode ser realizada com água e sabão.
“O paciente deve evitar o manuseio das lesões. Se tocar a lesão, lave as mãos com água e sabão e utilize o álcool em gel para evitar a contaminação de outras partes do próprio corpo”, afirma.
O especialista recomenda que os pacientes evitem a automedicação e utilizem somente os fármacos prescritos pelo profissional de saúde. “A automedicação tem que ser evitada. O paciente recebe recomendações de analgésicos, para o caso de dor, então é importante seguir as orientações nesse sentido”, alerta.
Até o momento, de acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registra 3.184 casos confirmados da doença nos estados de São Paulo (2.158), Rio de Janeiro (368), Minas Gerais (144), Distrito Federal (116), Paraná (82), Goiás (120), Bahia (26), Ceará (14), Rio Grande do Norte (10), Espírito Santo (8), Pernambuco (17), Tocantins (1), Maranhão (2), Acre (1), Amazonas (9), Pará (2), Paraíba (1), Piauí (1), Rio Grande do Sul (47), Mato Grosso (4), Mato Grosso do Sul (10), e Santa Catarina (43).