Prevenção contra varíola dos macacos vai além de cuidado no sexo, afirma especialista

Prevenção contra varíola dos macacos vai além de cuidado no sexo, afirma especialista

03/08/2022 0 Por Redação

 

O surto atual de varíola dos macacos tem maior disseminação durante relações sexuais, porém a transmissão ocorre também em outras situações de contato próximo com alguém infectado. Um exemplo são os casos já reportados de crianças que contraíram a doença sem que houvesse qualquer contato sexual.

“O risco de transmissão existe independentemente da relação sexual”, afirma Alberto Chebabo, médico infectologista e presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

A principal forma de transmissão de monkeypox -vírus que causa a varíola dos macacos- é o contato pele a pele com as vesículas que o doente apresenta. Como no sexo o contato íntimo é mais recorrente, a transmissão é mais fácil de acontecer.

No entanto, qualquer pessoa pode ter contato diretamente com as feridas dos pacientes sem estar em atividades sexuais e, então, se infectar. “A lesão de monkeypox […] tem uma quantidade muito grande de vírus. Então, o contato com essas vesículas podem levar à transmissão”, afirma a Chebabo.

Fora do sexo, o toque pele a pele diretamente nas feridas pode ser mais comum em ambientes com grandes aglomerações, mas varia a depender do nível de exposição.

O CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) diz que eventos nos quais as pessoas estão completamente vestidas e com poucas chances de contato direto com a pele são seguros. Concertos e teatros, por exemplo, podem ser considerados como contexto de baixo risco.

Enquanto isso, situações com um grande número de indivíduos com poucas peças de roupas e com alta probabilidade de contato pele a pele apresentam mais riscos para a transmissão da doença. Exemplos são festas, boate e raves.

O contato direto com as lesões também pode ocorrer em ônibus e metrôs quando o índice de lotação está alto. “No transporte público, pode haver a disseminação do vírus a partir do contato pele a pele ou próximo a pessoa que está infectada”, afirma Ana Brito, epidemiologista do Instituto Aggeu Magalhães e associada da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Para evitar esse tipo de transmissão, uma das principais recomendações é, caso você veja alguém com as lesões causadas pela varíola dos macacos, evite contato próximo.

Também é recomendável manter a higienização das mãos com álcool 70% ou água e sabão. Isso porque você pode contaminar as mãos e depois tocar no olho ou na boca, facilitando a infecção pelo vírus.

Além disso, avaliar previamente os riscos de contato direto com pessoas em um evento a que pretende ir é indicado. Também é importante que, caso você apresente os sintomas comuns a varíola dos macacos, mantenha distância de outras pessoas e procure um serviço de saúde para ter o diagnóstico exato.

CONTATO EM OBJETOS INFECTADOS

Além do contato direto nas feridas, a transmissão pode ocorrer quando se toca objeto ou superfície infectado pelo vírus. Os casos são raros, mas podem acontecer quando um paciente utiliza um objeto que logo após é acessado por alguém não infectado.

Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin (EUA), afirma que esse risco de transmissão por superfícies é menor e variável. Ela cita duas situações: a primeira em que uma pessoa infectada está com lesões abertas, expelindo secreção e tocando em um objeto, em contraposição a um segundo cenário em que o paciente não tem muitas vesículas e não ejeta tanta secreção. Nesses casos, a primeira circunstância é quando vai ser muito mais provável que ocorra a contaminação da superfície.

Garrett exemplifica com um caso de uma academia. Ela diz que os riscos desses ambientes aumentam se alguém doente toca nos equipamentos e não ocorre a higienização destes em seguida.

“Ambientes esportivos, como as academias, apresentam riscos baixos, a menos que alguém esteja com uma lesão aberta na mão soltando secreção, pega um peso na academia e outra pessoa acessa o mesmo peso logo após.”

O risco é parecido para outras circunstâncias em que alguém infectado toca em um objeto. Por isso, uma recomendação é higienizar objetos e superfícies com álcool 70% ou água e sabão para evitar a disseminação da doença. Por exemplo, em ambientes domiciliares em que uma pessoa está com varíola dos macacos, orienta-se que os objetos da pessoa não sejam compartilhados com os outros moradores e que sejam sempre limpos.

As roupas também podem transmitir o vírus após serem utilizadas por alguém doente.

Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), diz que, nos tecidos, o vírus pode sobreviver por um período maior em comparação a outras superfícies.

O fato de algumas roupas estarem em contato direto com a pele da pessoa também é um indicativo de que elas podem ser superfícies mais propensas a conter o vírus. Por isso, a principal orientação é não compartilhar as peças para manter o risco baixo de transmissão do vírus por meio das superfícies.

“Ambientes públicos onde não há compartilhamento íntimo da roupa de cama ou da toalha têm um risco de transmissão bem pouco provável”, afirma Garrett.

Além disso, é recomendado higienizar as roupas caso sejam utilizadas por alguém doente. A limpeza deve ser feita com água e sabão.

VIAS RESPIRATÓRIAS

Secreções respiratórias são outra forma em que pode ocorrer a transmissão. No caso da varíola dos macacos, a infecção por esse meio é mais difícil de ocorrer. “Não é contagiosa igual Covid, mas é transmissível por vias aéreas”, diz Boulos.

A transmissão pelas gotículas demanda um contato muito próximo e prolongado. “Se você está num avião sentado ao lado de uma pessoa doente por seis, sete ou oito horas de voo, existe a chance de transmissão”, exemplifica Chebabo.

“Não é uma transmissão de ‘passei por uma pessoa, então já vou pegar monkeypox'”, completa o infectologista.

Mesmo que mais raras, ações podem ser tomadas para evitar esse tipo de transmissão. Uma delas é o uso de máscaras, principalmente em espaços fechados, de forma que se evite a infecção também de Covid-19.

“Em qualquer ambiente fechado com muita gente, o melhor é usar máscara. Até porque a Covid é transmitida bem mais do que monkeypox por essa via, então é necessário usar”, diz Boulos.

Além desses cuidados de pessoas que ainda não se infectaram com a doença, uma das formas mais importantes para barrar o ciclo de transmissão é testes de casos suspeitos e isolamento. Ao fazer isso, a cadeia de transmissão do vírus será interrompida.

“Diagnóstico e isolamento são os mais importantes”, conclui Chebabo.

*Com Bahia Notícias

Foto: Divulgação