Usar aplicativos para contar calorias pode atrapalhar a dieta, explica especialista
23/04/2022
Em todos os lugares, é possível ver pessoas das mais diversas idades e biotipos usando smartwatches. São muitos modelos e marcas com a proposta de auxiliar no progresso do condicionamento físico, medindo calorias e frequência cardíaca. Mas, assim como tudo, essas informações precisam ser usadas com cautela. Ver o quanto de energia diária se está gastando é uma “faca de dois gumes”: ao mesmo tempo que é estimulante, também pode refletir em más escolhas alimentares, já que apenas monitorar calorias pode dar um efeito ilusório. “O fato de a pessoa fazer exercícios e gastar, por exemplo, 500 calorias, não significa que ela tem essas calorias a mais para consumir em qualquer tipo de alimento”, diz a nutricionista clínica esportiva Maíra Azevedo.
A especialista explica que, para uma pessoa eliminar 1 kg de gordura, é preciso gastar 7 mil calorias. Mas, se toda vez que ela ver no reloginho o número que queimou e decidir repor essa quantidade em comidas ricas em gorduras e açúcares, o resultado vai ser inverso, porque ela vai acabar armazenando em vez de perder.
“Se uma pessoa quer emagrecer, ela deve, a princípio, ingerir menos calorias do que gasta. Se quiser ganhar peso, deve ingerir mais, e, se quiser manter, deve consumir aproximadamente a mesma quantidade do gasto energético”, diz Marcella Garcez, diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Qualidade é diferente de quantidade
É importante entender a qualidade nutritiva dos alimentos consumidos. Um prato de arroz, feijão, proteína e verdura pode ter a mesma quantidade calórica de um hambúrguer, mas isso não significa que eles sejam iguais.
“Quando você opta por comidas industrializadas, frituras, embutidos, refrigerantes ou outros tipos de bebidas artificiais e até mesmo alcoólicas, você está ingerindo calorias sem densidade nutricional, que somente entregam energia, sem qualquer vitamina ou proteína”, explica Bruna D’Ávila, nutróloga pela Universidade Federal do Amazonas e Abran.
Essas escolhas equivocadas podem acarretar doenças metabólicas, como obesidade, diabetes, hipertensão, além do déficit vitamínico, nutricional e até a desnutrição. É, inclusive, possível ser obeso e desnutrido ao mesmo tempo.
“Um exemplo é comparar o copo de refrigerante a um de suco natural. Embora ambos tenham quantidade semelhante no valor numérico de calorias, o de refrigerante vai ter açúcar e aditivos químicos, enquanto o suco terá vitaminas e nutrientes”, diz Cláudia Chang, doutora em endocrinologia e metabologia pela USP (Universidade de São Paulo).
Isso também vale para quem quer ganhar peso. Se a pessoa fizer o consumo excessivo de alimentos com baixo valor nutricional e supercalóricos, ela vai ganhar números na balança, mas serão de gorduras, e não massa magra.
“Sempre que as escolhas alimentares incluem fontes de proteínas magras, carboidratos complexos, provenientes de vegetais, frutas, grãos integrais e sementes, a dieta, além das calorias, fornece macronutrientes, vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, que conferem benefícios à saúde de quem os consome com frequência”, ressalta Garcez.
Qual é o padrão a ser seguido? Segundo Marcella Garcez, um hábito alimentar saudável é composto por 15% a 30% de proteínas, preferencialmente magras, 40% a 55% de carboidratos, sendo no máximo 10% de açúcares, além de 25% e 30% de gorduras —a maior parte de poli-insaturadas e monoinsaturadas, que são benéficas ao organismo, ajudam a reduzir o nível de LDL (colesterol “ruim”) e são fontes de vitamina E.
Apesar das diretrizes, a nutróloga ressalta a importância de haver um cardápio individualizado. “É adequado, principalmente em situações que envolvam patologias, que as dietas sejam feitas de acordo com as particularidades bioquímicas e de estilo de vida de cada um”.
A contagem de calorias deve ser feita de maneira individual, levando em consideração a composição corporal da pessoa, atividades diárias, estado de saúde ou doenças preexistentes, além de considerar o objetivo dela, sendo de manutenção, perda ou ganho ponderal, acrescenta D’Ávila.
Por isso, é importante optar por uma avaliação profissional. Apegar-se aos números expostos em relógios e aplicativos, que são mais generalistas, pode acabar em frustração. “A pessoa pode até conseguir perder peso, mas não vai manter a longo prazo, porque vai voltar aos hábitos antigos e engordar novamente”, diz Azevedo.
A ideia não é tornar esses gadgets inimigos, mas sim aliados na busca por uma vida saudável, e isso só acontece ao entender que suas informações não devem ser interpretadas isoladamente, mas sim com todo um entendimento das necessidades biológicas de cada indivíduo.
*Com UOL
Foto: Reprodução Internet