Arteterapia auxilia puérperas que aguardam saída dos bebês da UTI em Ilhéus
28/03/2022
O sonho de toda gestante é chegar à maternidade, ter o seu bebê e voltar logo pra casa. Mas nem todos os casos acontecem dessa forma. Há bebês que necessitam de acompanhamento médico e precisam de cuidados na UTI Neonatal. Como uma aposta de fortalecimento do vínculo e de cuidados familiares além dos profissionais, o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, garante a presença das mães nas 24 horas junto aos seus bebês.
As que residem em Ilhéus passam a maior parte do tempo acompanhando a evolução da criança, mas muitas voltam para casa ao final do dia. No entanto, há casos em que a distância da cidade de origem termina por transformar, provisoriamente, o hospital no próprio lar da puérpera. Distante de sua casa e dos demais familiares.
Mariele Fernandes, de 19 anos, veio do município do Prado, a 388 quilômetros de Ilhéus. Reylla Taline, de 21, ainda de mais longe: Caravelas, a 440 quilômetros. Estão completando um mês que vivem dentro do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio e acompanham a evolução dos seus bebês até que eles possam, finalmente, ir para casa. Riquelme, filho de Mariele, nasceu com apenas 1,4 kg. Ravi, filho de Reylla, prematuro, com apenas 31 semanas. Pai e avós só conhecem o bebê por foto. A família nunca teve contato presencial com a criança.
Rotina que não lhes pertence
“Por conta desta situação, passam a vivenciar uma rotina hospitalar que não pertencem a elas”, destaca a Terapeuta Ocupacional Márcia Maria de Paula. “Além de tudo isso, muito jovens, longe da família e a maior parte do tempo sem a presença do próprio filho, do modo como o esperou”, completa. “Me doía mais quando eu entrava na sala e via as mães pegando os filhos no colo. Eu dizia, meu Deus, será que o meu dia vai chegar?”, reconheceu Reylla, emocionada. Ela, Mariele e todas as puérperas cujos filhos seguem internados na UTI Neonatal, participam de um projeto de Arteterapia, com rodas de conversa, grupos de atividades lúdicas e terapêuticas.
Márcia de Paula explica que o objetivo é trazer para um ambiente coletivo as mães que estão num processo de angústia e ansiedade e oferecer um momento para liberar tudo isso e para trocar experiências na convivência hospitalar. Uma equipe multidisciplinar do hospital – formada por enfermeiras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, psicólogas e nutricionista -, cria rotinas e promove atividades diárias. “A resposta é muito positiva”, reconhece Maria de Paula. “É um momento em que elas esquecem que estão dentro de um hospital. É o que chamamos de fortalecimento de vínculo”, completa.
Otimismo
“A troca de experiências conforta”, reconhece a mãe de Ravi. “O tempo passa diferente, mais rápido e a gente deixa de ter pessoas que nos atendem dentro de uma unidade hospitalar para ganhar amigos”, completa. O otimismo cresceu. “Já peguei Ravi no colo e só tenho tido notícias boas”. Semana que vem ela começa a amamentar o filho. “As atividades distraem a mente da gente. A gente ganha uma energia a mais e uma ajuda a outra. Tem momentos que nem lembro que estou em um hospital”, afirma Mariele.
Da equipe do Serviço Social, Fernanda Hage também comenta os bons resultados. Tanto que o projeto que antes só atendia às puérperas com bebês na UTI Neonatal, passou também a abrigar mães e bebês que já deixaram a UTI e passaram para a fase seguinte do tratamento: o “Canguru”. Ela explica a principal mudança: “na UTI a mãe entra, mas não tem a assistência direta ao bebê. No Canguru a equipe entra para a medicação. A maior parte das coisas passa para o controle das próprias mães. Elas se sem sozinhas e a gente abraça também”.
Quando saírem do hospital, Ravi e Riquelme levarão consigo diversos mimos confeccionados por elas, nos tempos em que, talvez, tenham sido os mais difíceis das suas vidas. Levarão também um diário – que nenhum integrante da equipe multidisciplinar teve acesso – onde elas relatam a luta, o sacrifício e a vitória do amor que sempre valerá a pena ser lembrado.
*Redação
Foto: Reprodução