Influenza ou Covid-19 afastaram mais de 16 mil servidores públicos de saúde no Brasil
17/01/2022
Enquanto o sistema de saúde pública registra uma alta nos atendimentos de pessoas com Covid-19 e gripe, também enfrenta os desfalques causados pelas duas doenças na força de trabalho. Levantamento da CNN mostra que pelo menos 16 mil servidores públicos da saúde foram afastados em sete redes estaduais, 13 redes municipais e na rede do Distrito Federal, entre dezembro de 2021 e este mês de janeiro, por conta do coronavírus e influenza.
O número é ainda maior, pois as secretarias estaduais de Saúde do Rio de Janeiro e Ceará divulgaram apenas os percentuais de afastamento, 20% e de 10% a 15%, respectivamente.
Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios ainda aponta que o crescimento de servidores com Covid-19 é sentido por 60% das prefeituras. A pesquisa foi realizada entre os dias 10 e 13 de janeiro, com respostas de 1,8 mil cidades.
O problema afeta a capacidade de testagem, diagnóstico e tratamento dos infectados pelo coronavírus, segundo o levantamento da CNM, assim como os cuidados com pré-natal de gestantes e com doenças como hipertensão e diabetes.
Para dar conta do aumento da demanda em meio ao déficit de funcionários, gestores públicos remanejam escalas, contratam temporários e até mesmo suspendem atendimentos.
Sudeste
O Rio de Janeiro é o mais afetado pelas baixas. Na rede estadual de saúde, as cirurgias eletivas estão suspensas a partir desta segunda-feira (17), por 30 dias, devido ao impacto do afastamento de cerca de 20% dos profissionais de saúde. A paralisação dos procedimentos também foi motivada pela redução nas doações de sangue e para evitar a contaminação por Covid-19 de pacientes e servidores.
Entre as capitais, o Rio também lidera o ranking de desfalques, com 5,5 mil contaminados na rede municipal pelo coronavírus e influenza, desde dezembro. Parte desses profissionais já retornou ao trabalho após o período de isolamento e as unidades de saúde continuam funcionando sem alterações, segundo a prefeitura.
Em São Paulo, as síndromes respiratórias causaram o afastamento de 1% da rede estadual (1.763 pessoas) e de 3% da municipal (3.193, sendo 1.403 com Covid-19 e 1.683 com síndrome gripal).
Para absorver a demanda crescente em meio às faltas, o Governo de SP desacelerou o redirecionamentos de leitos voltados aos infectados pelo coronavírus para outras doenças, remanejou equipes, autorizou plantões extras e reforçou as equipes terceirizadas.
Já a prefeitura contratou 280 novos servidores e também autorizou a chamada de médicos e enfermeiros pelas organizações sociais.
Aumentar as contratações, com o chamado de 1.015 profissionais, também foi a resposta encontrada pela Prefeitura de Belo Horizonte (MG) diante da alta nos atendimentos e do desfalque de 487 trabalhadores por doenças respiratórias em dezembro.
Em Vitória (ES), o número de servidores municipais da saúde afastados triplicou entre novembro e dezembro do ano passado, saindo de 78 para 242. Já a procura por atendimento cresceu 50%, o que motivou a ampliação do horário de funcionamento de seis unidades de saúde e a chamada de 166 novos profissionais.
Sul
No Sul, Curitiba (PR) tem 47 servidores afastados por síndromes respiratórias e Porto Alegre (RS), 348. A capital do Rio Grande do Sul divulgou que o atendimento pode sofrer lentidão devido às equipes reduzidas em algumas unidades e à alta procura por consultas.
Centro-Oeste
No Centro-Oeste, as prefeituras de Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT) divulgaram que somam 137 e 320 servidores doentes, respectivamente, problema que é agravado pelas férias de outros funcionários. Na capital do Mato Grosso do Sul, equipes foram realocadas.
Já na capital do Mato Grosso, a situação é mais complicada porque a Secretaria Municipal de Saúde está impedida judicialmente de contratar e negocia uma liberação com o Ministério Público.
Goiânia (GO) ainda contabiliza o déficit, enquanto o Governo de Goiás disse que registra apenas faltas pontuais, sem alterações em escalas ou atendimentos. Já em Brasília, após 3.207 servidores doentes em dezembro, houve remanejamento de profissionais e nomeação de novos.
Nordeste
O Governo do Ceará divulgou que teve de 10% a 15% da força de trabalho das unidades hospitalares da rede estadual afastada por síndromes gripais e Covid-19, entre dezembro e este mês. Parte dos trabalhadores foi afastada por suspeita, após contato com familiares ou pacientes positivos para o coronavírus.
A Secretaria de Estado de Saúde informou que a demanda cresceu substancialmente nas últimas semanas e redesenha escalas para evitar prejuízos nos atendimentos. Também houve a abertura de 150 vagas temporárias de trabalho em unidades geridas por uma organização social.
Já na capital Fortaleza, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, doenças respiratórias afetaram 600 servidores dos postos de saúde e 700 de hospitais.
O Maranhão foi outro estado do Nordeste com desfalques comunicados à CNN. Na rede estadual, foram 1.133, 916 deles com Covid-19. Os servidores em atividade estão fazendo hora extra para garantir os atendimentos.
Na capital São Luís, o número de afastados quadruplicou entre a última semana de dezembro e os primeiros 12 dias de janeiro, saindo de 200 para 800. A prefeitura trabalha com remanejamento de servidores e contratações temporárias diante desse cenário.
Além do remanejamento, a ampliação do quadro de servidores é a estratégia adotada em Recife, capital de Pernambuco, onde 43 servidores estão com Covid-19 e outros 30 com influenza. Já o Governo de Alagoas divulgou que registrou 177 afastamentos do mês passado até agora.
Norte
Entre os dias 7 e 13 desse mês, a Secretaria de Estado da Saúde de Tocantins somou 78 novos casos de Covid-19 em trabalhadores, mas alegou que não houve sobrecarga para os que seguem em atividade. A pasta também divulgou que os números de infectados pelo coronavírus têm subido de forma significativa.
A Prefeitura de Palmas, capital do estado, informou que “não é possível mensurar a quantidade de pessoas afastadas por tais doenças, tendo em vista que no atestado não é obrigatório informar o código da enfermidade, conforme a Resolução nº 1819 do Conselho Federal de Medicina (CFM).”
O déficit afeta Manaus (AM), com 48 profissionais afastados. Já o Governo do Amazonas não divulgou dados de baixas e informou apenas que o “Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Covid-19 analisa as próximas medidas para dinamizar os procedimentos com a alta demanda da rede de saúde.”
Em Boa Vista (RR), entre 1º e 12 de janeiro, foram 72 afastados, com remanejamento para cobrir as escalas. A Secretaria Municipal de Rio Branco (AC) ainda apura os dados.
O restante dos estados e capitais não retornou ao pedido de informações feito pela CNN.
*Com CNN BRasil
Foto: Getty Images