Saiba como funciona a técnica que fez um paciente ficar com dois corações
22/11/2021O diagnóstico veio depois de duas paradas cardíacas e um AVC. O urbanista Lincoln Paiva, de 54 anos, fazia esporte, não fumava, bebia pouco, mas o coração dele falhou. A insuficiência cardíaca é uma das doenças que mais matam no planeta.
Lincoln precisava de um transplante. Mas logo veio outra notícia ruim. O urbanista sofria de hipertensão arterial pulmonar, uma doença rara que faz com que o fluxo de sangue que vem dos pulmões seja mais alto do que o normal.
“Quando você implanta em um paciente que tem pressão pulmonar alta, este coração não trabalha, não tolera, ele não resiste”, explica Fábio Jatene, cirurgião torácico e cardiovascular do Incor.
Foi então que entrou em cena um novo estudo do Instituto do Coração de São Paulo.
“O paciente fica com os dois corações por um tempo. A pressão no território pulmonar diminui. Eu opero novamente o paciente. Essa é a cirurgia difícil. Essa que é a inovação. Retira o coração doente e pega o coração novo e reutiliza na sua devida posição”, explica Fábio Gaiotto, cirurgião cardiovascular.
Os médicos acomodaram o coração novo, do doador, ao lado do coração doente do Lincoln. Eles desenvolveram uma nova técnica de conexão entre os dois órgãos, que passaram a funcionar juntos.
Os dois corações dividiram as funções, e com o passar do tempo, diminuíram de tamanho.
“Na hora que o Lincoln foi para o quarto, uma sensação muito, muito interessante, porque ele estava na UTI ligado a máquinas e começou a caminhar no quarto. Ou seja, o primeiro passo deu certo”, disse Gaiotto.
“Tenho dois corações batendo no meu peito, o antigo batendo aleatoriamente e um novo coração vibrante, mais vibrante do que tudo que conheci na vida, com uma intensidade de sapateado de jazz”, relatou Lincoln.
Foram 45 dias vivendo com dois corações, até que um deles não aguentou mais.
“Formou um coágulo muito grande no coração antigo. Ou seja, aconteceu aquilo que nós prevíamos. O coração doente continuou doente. Falei: ‘Lincoln, chegou o dia de fazer a troca’”, explica Gaiotto.
Dia 4 de outubro começou a segunda etapa do procedimento. Os médicos removeram os dois corações e Lincoln ficou mantido por máquinas durante um curto período. Então os médicos devolveram apenas o coração novo.
A nova cirurgia foi um sucesso. Cinco outros pacientes devem passar pelo mesmo procedimento.
O urbanista Lincoln, que entrou no hospital achando que ia morrer, saiu de coração novo e bem de saúde no dia 5 de novembro.
*Fonte: Fantástico
*Foto: Reprodução