Sociedade de endocrinologia condena uso de ‘chip da beleza’
10/11/2021
Com o aumento do uso de dispositivos hormonais em busca de benefícios estéticos ou de melhoria no desempenho físico, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) divulgou nota para esclarecer que não recomenda o uso de implantes hormonais de gestrinona, seja para fins estéticos ou terapêuticos.
O uso dos chips da beleza já tinha sido criticado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Os dispositivos não têm registro específico dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) (…) também não reconhece os implantes de gestrinona como uma opção terapêutica para tratamento de endometriose, rechaça veementemente o seu uso como anabolizante para fins estéticos e de aumento de desempenho físico”, afirmou a SBEM.
O uso do dispositivo está vinculado a possíveis efeitos terapêuticos no tratamento de sintomas da menstruação, menopausa, doenças dependentes do estrogênio (hormônio feminino) ou contracepção.
Contudo, seu uso se popularizou devido aos seus supostos efeitos colaterais, que podem incluir aumento de massa muscular, da libido e da disposição física.
Em setembro, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) divulgou, em nota, que não existem dados suficientes que validem o uso do dispositivo.
“As Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo não recomendam os implantes hormonais manipulados não aprovados pela Anvisa, seja com a finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo”, afirmou a Federação.
Faltam evidências científicas
‘Chip da beleza‘ é o nome popular dos implantes de gestrinona, um hormônio sintético da progesterona, que faz com que a testosterona (hormônio masculino) aumente.
O problema não é o uso do hormônio em si, mas sim a forma que é utilizado e a falta de controle dos modelos customizáveis, o que pode acarretar superdosagem ou subdosagem em algumas pacientes.
A gestrinona começou a ser estudada para tratamento da endometriose por via oral nos final dos anos 1970. Diante dos resultados positivos, muitos países adotaram o hormônio para o tratamento terapêutico desta doença.
No Brasil, o uso da gestrinona via oral para o tratamento da endometriose é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que registrou o hormônio em 1996.
Contudo, segundo a SBEM, atualmente não existe produção de gestrinona oral pela indústria farmacêutica no Brasil. Ou seja, embora os implantes de gestrinona sejam utilizados no país, seu uso não é reconhecido pela Anvisa.
Não há registro porque, até o momento, “não existem estudos de segurança e eficácia da gestrinona para tratamento de endometriose por uso parenteral, particularmente, por meio de implantes”, como aponta a SBEM.
Além disso, a substância também é um hormônio com ações anabolizantes e, por isso, está na lista de substâncias proibidas no esporte da World Anti-Doping Agency (WADA)
“Não há nenhuma indicação formal para implante de gestrinona, para nenhuma doença. Antigamente usávamos a gestrinona via oral em algumas doenças, como a endometriose, mas isso já caiu por terra. Não usamos nem via oral e nem por outras vias, devido aos efeitos colaterais e por termos medicações com melhor tolerabilidade e menos efeitos adversos”, explica a ginecologista Gabriela Pravatta Rezende.
A falta de estudos científicos dificulta, inclusive, a observação sobre a incidência dos efeitos colaterais nas pacientes que utilizaram o dispositivo.
“Os relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres aumentam a cada dia: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia (aumento do clitóris)”, afirma a SBEM.
Os efeitos colaterais podem ser reversíveis (que desaparecem após o uso do implante ser descontinuado) e irreversíveis (que são permanentes).
Entre os efeitos colaterais reversíveis estão o inchaço, a queda de cabelo, aumento da acne e dos pelos corporais.
“Há também o risco da paciente adquirir efeitos colaterais irreversíveis, como o aumento do clitóris e alteração na voz. São efeitos mais raros, mas podem acontecer, principalmente se a quantidade de hormônio for suprafisiológica, ou seja, uma quantidade de hormônio muito grande”, explica a ginecologista Ana Lúcia Beltrame.
*Fonte: G1
*Foto: Reprodução