Pessoas com HIV/Aids têm risco 100 vezes maior de cometer suicídio, diz pesquisa

Pessoas com HIV/Aids têm risco 100 vezes maior de cometer suicídio, diz pesquisa

01/07/2021 0 Por Redação

 

Apesar dos avanços significativos no tratamento da infecção por HIV e a qualidade de vida proporcionada aos pacientes, pessoas que vivem com o vírus da aids são 100 vezes mais suscetíveis a cometer suicídio do que a população geral, é o que aponta um estudo publicado no periódico científico BMJ Journals, que analisou dados de mais de 185 mil pacientes soropositivos do mundo todo.

A constatação foi obtida após a análise de todos os estudos clínicos sobre o tema publicados nas plataformas PubMed e SCOPUS até o dia 1º de fevereiro de 2020. As pesquisas englobam indivíduos de 14 países: Estados Unidos, França, Brasil, Suíça, África do Sul, China, Canadá, Austrália, Itália, Coreia do Sul, Grécia, Uganda, Reino Unido e Holanda.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a taxa global de suicídio da população geral é de 0,11 a cada mil pessoas. Mas, entre o grupo avaliado pelo estudo, os pesquisadores constataram que essa incidência é de 10,2 a cada mil. De acordo com a OMS, um a cada três membros da população geral que tem pensamentos suicidas tentará cometer o ato; entre os indivíduos com HIV/Aids, a pesquisa sugere que uma tentativa é observada a cada dois com ideação suicida. Na população geral, uma em cada 286 tentativas resultará em óbito; entre os soropositivos, a incidência é de uma em 13.

“Isso é indicativo de um risco aumentado de consumação do suicídio entre pessoas vivendo com HIV/aids em relação à população em geral”, escrevem os pesquisadores no estudo.

“Há uma necessidade urgente de priorizar a triagem e cuidados de saúde mental em todos os ambientes de teste e tratamento de HIV”, avalia, em comunicado, Paddy Ssentongo, professor assistente do Centro de Engenharia Neural da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e um dos autores da pesquisa.

As taxas de suicídio na população com HIV/Aids não são iguais em todas as partes do mundo. As américas do Norte e do Sul e a Austrália se destacam entre as regiões com os maiores índices: 212,6, 232,2 e 213,4 casos a cada 1 mil pessoas, respectivamente. Na Europa, o índice ficou em 135 mortes a cada 1 mil habitantes; África e Ásia concentram as menores incidências: 63 e 92 a cada 1 mil indivíduos, respectivamente.

Determinantes de risco

De acordo com a pesquisa, os fatores que aumentam o risco de suicídio entre pacientes com HIV/aids são muitos. Os autores mapearam quatro deles: presença reduzida dos linfócitos CD4 (a ausência desses glóbulos brancos, alvos do vírus HIV, é associada ao déficit imunológico); alterações neurológicas provocadas pelo agente infeccioso nos sistemas nervoso central e periférico (a chamada “NeuroAIDS”); estigmas associados à doença; e, por fim, impactos nas relações interpessoais.

Os pesquisadores notaram, ainda, que o risco de suicídio foi significativamente maior entre pacientes no estágio V da doença. Esse resultado não surpreendeu a equipe: caracterizada por uma carga viral elevada, a fase é associada a efeitos mais diretos do vírus no cérebro. Por outro lado, o estudo também afirma que as taxas de suicídio foram “extraordinariamnete altas” no primeiro ano do diagnóstico.

Esses dados, segundo o documento, sugerem que há pelo menos dois alvos eficazes para mitigar as altas taxas de suicídio entre a população com HIV/aids: a realização de avaliações de risco de suicício imediatamente após o diagnóstico da condição, além do aconselhamento psicológico contínuo. “O risco de suicídio deve ser avaliado em todos os pacientes com HIV, especialmente naqueles recém-diagnosticados e naqueles com doença avançada”, considera Ssentongo.

Segundo a pesquisa, o tratamento antirretroviral pode ser um aliado, uma vez que os medicamentos visam estabilizar ou aumentar a quantidade dos linfócitos CD4 no organismo. No grupo avaliado, os pacientes que faziam uso da terapia foram, de fato, menos propensos a cometer suicídio.

“As pessoas que convivem com HIV/aids sofrem um grande fardo de condições psicossociais que frequentemente não são diagnosticadas e tratadas”, observam os estudiosos. “Sugerimos que a avaliação do risco de suicídio seja fornecida a esse grupo em conjunto com o tratamento antiviral para melhorar os resultados clínicos, a longevidade do paciente e a qualidade de vida”, concluem.

 *Com informações da Agência Aids

Foto: Pixabay