Retirada de implante mamário tem crescido por questões estéticas e de saúde
18/05/2021
Nos últimos anos há um aumento no número de mulheres que buscam retirar próteses dos seios, em uma cirurgia chamada explante mamário. Além o desejo de se sentirem melhor ao eliminar a sensação de carregar um corpo estranho, pesam ainda questões estéticas e de saúde. O período entre 10 e 15 anos com o implante costuma ser o mais crítico desse convívio.
É nesta hora que aparecem reações cicatriciais relevantes, que criam uma cápsula ao redor da prótese (contratura capsular), um tecido fibroso que, quando muito fortalecido, muda a consistência da mama (mais dura), altera o formato (ao comprimir a prótese, deformando-a) e faz surgirem dores de difícil tratamento, sendo recomendada a retirada dos implantes, como explica o médico cirurgião plástico Guataçara Schenfelder Salles Junior, professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Além da contratura capsular, com os anos aumenta o risco de essa prótese se romper – outro indicativo para retirada – e que não se relaciona ao tempo de uso, podendo ou ocorrer antes, com 5 ou 10 anos, ou não ocorrer, mesmo após 20 anos de uso. “Tendo próteses integras e com aspecto natural, sem contratura alguma, elas podem ser usadas por tempo indeterminado. Se antigamente se falava em um prazo de validade de 10 anos, hoje há próteses modernas, de longa data, sem esse vencimento”, diz o médico mastologista Cleverton Cesar Spautz, do Hospital Santa Cruz.
Ele diz que além da contratura e do rompimento, há uma associação da prótese texturizada com um tipo raro de câncer (linfoma anaplásico), feita em publicações científicas nos últimos anos, que contribui para esse movimento pelo explante.
“Essa notícia causou medo e atenção, porém mesmo descrito como um risco presente em grande parte das marcas de prótese, esse câncer é extremamente raro, motivo pelo qual nem a comunidade europeia, nem a FDA, nos Estados Unidos, tenham proibido seu uso”
Como é feita a cirurgia
O explante mamário é uma cirurgia como outra qualquer, realizada com anestesia e na qual se retira a prótese e a cápsula e se reconstrói as mamas. O recomendado, segundo os especialistas, é que o procedimento seja feito por um cirurgião plástico. Normalmente é usada a mesma cicatriz da cirurgia de inclusão do implante. A cirurgia pode ter porte menor ou maior, a depender se as sequelas cicatriciais inflamatórias são mais leves (em pacientes com menos tempo de implante) ou mais importantes e graves. Nestes casos pode ser preciso remover por completo a cápsula (capsulotomia).
“Um procedimento menor pode exigir apenas anestesia local, mas o que envolve ou a cápsula, ou a musculatura peitoral, pode necessitar ou de bloqueios da medula espinhal, ou de anestesia geral. O tempo da cirurgia varia de 45 minutos a até 5 horas”, diz Salles Junior.
“O modo como é refeito o volume e a forma da mama varia: em quem tem tecido mamário suficiente é usada a técnica de mamoplastia; para pouco tecido, para evitar que a pele fique muito flácida, são usados outros métodos, sendo mais comum a lipoenxertia, uma pequena lipoaspiração em que o tecido é centrifugado e injetado para reconstruir o espaço que surge após a retirada da prótese”, diz Spautz.
Todos os sintomas somem depois?
Quando os sintomas se referem a problemas infecciosos e de contratura capsular, eles são resolvidos com o explante da prótese. Porém, segundo Salles Junior, não ter passado por diagnóstico apropriado da causa dessas manifestações pode fazer com que muitas vezes pacientes avaliem a cirurgia como malsucedida. “Sintomas inespecíficos precisam de diagnóstico correto para que seja estabelecida a relação de causa/efeito com a prótese, só assim se podendo concluir a efetividade real do explante”, diz ele.
Além disso, como essa retirada pode envolver nova cirurgia com outras técnicas, como a lipoenxertia, essas técnicas também têm seus efeitos colaterais e podem causar desconforto. “Então, não há uma garantia de que a retirada da prótese vá melhorar todos os sintomas da mulher”, explica Spautz, afirmando que, do ponto de vista de desconforto e da contratura, não ficam danos irreversíveis após o explante, assim como, se a pessoa não recolocar outra prótese, ela elimina qualquer risco relacionado ao linfoma associado.
“Porém, ao retirar uma prótese que aumentava o volume, mesmo usando técnicas que minimizem desconfortos e a aparência, algumas alterações na forma podem vir a não agradar, como maior flacidez, pelo volume que a prótese levou a aumentar dessa pele”, fala.
Segundo Salles Junior, além da alteração do formato e da diminuição do volume mamário, também pode ocorrer a formação de cicatriz, quando não já existente. Ele diz que em caso de doenças com manifestações mais sistêmicas, ou seja, em outras partes do corpo, pode haver danos irreversíveis mesmo com a retirada do implante. “Isso acontece em situações excepcionais e o paciente deve sempre buscar profissional especializado para um diagnóstico e tratamento apropriado, para evitar esses danos”, fala.
Cuidados pós-explante
A recuperação e os cuidados após o explante se assemelham a de qualquer pós-operatório, com riscos de infecção, hematoma e eventualmente outras complicações como perda de sensibilidade mamária e alterações, como necrose de pele. “Na lipoenxertia, parte desse enxerto de gordura é absorvido pelo corpo, fazendo com que o volume inicial, com o tempo, também possa ser reduzido”, diz Spautz.
Em cirurgias menores, os cuidados são os mesmos da inclusão da prótese: limitação da abertura dos braços por duas semanas e volta a atividades após 30 dias, inclusive exercícios. “Em procedimentos de porte maior, com retirada da cápsula da prótese, a recuperação é mais lenta e, muitas vezes, necessita da colocação de drenos, com liberação para volta às atividades após 60 dias”, diz Salles Junior. Após o explante, o volume da mama é reduzido, por óbvio, mas o resultado final e a necessidade de se colocar outra prótese irá depender de cada caso, como explica Spautz. “Em algumas situações os seios ficam com forma e aspectos muito adequados, mas em outras, acabam com algum prejuízo como cicatrizes ou sequelas, algo inerente a qualquer cirurgia estética ou que se faça na mama”, cita ele.
O resultado vai depender, de acordo com Salles Junior, de como era a relação entre a quantidade de tecido mamário antes da inclusão da prótese, e do tamanho do implante até então inserido: em casos de escassez muito grande de tecido mamário e próteses grandes, a remoção vai gerar uma repercussão maior em termos de formato e volume da mama. “Para quem tinha quantidade maior de tecido, a técnica de lipoenxertia propicia a obtenção de resultados muito bons, mesmo com a retirada”, fala.
Sintomas que tem levado mulheres ao explante mamário, segundo os especialistas
Há os sintomas agudos, relacionados à contaminação por germes do implante de silicone, como bactérias, microbactérias e até mesmo fungos, mais frequentes nos primeiros meses após a colocação da prótese e que se manifestam com a formação de líquido ao redor da prótese (seroma), ou mesmo sinais inflamatórios da pele da mama, como vermelhidão, alteração de sensibilidade e edema.
Os sintomas crônicos se desenvolvem depois de meses e principalmente anos após a colocação do implante. A prótese fica mais enrijecida, ou seja, a cápsula vai ficando mais grossa e vai tornando a prótese menos móvel. Isso, em algumas mulheres, pode alterar a forma da mama e causar dores.
Ultimamente também estão sendo descritas algumas manifestações mais inespecíficas (breast implant), que consiste em reações relacionadas ao implante mamário, com sintomas de fadiga, alterações da pele, queda de cabelo, ansiedade, alterações de humor, depressão, entre outras manifestações.
Também são descritas duas doenças relacionadas ao implante mamário: a síndrome ASIA, autoimune, induzida por adjuvantes — no caso, o silicone, mais comum em pacientes que já tem alguma doença que ataca o próprio corpo, se manifesta com fadiga, dores articulares, musculares, boca seca, olho seco e até mesmo manifestações neurológicas. A outra seria o Linfoma de células gigantes, que é uma doença relacionada com o revestimento do implante mamário, que se manifesta com o seroma.
*Com informações de Gazeta do Povo
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