Videogame pode vir a ser prescrito para problemas de memória pós-Covid-19

Videogame pode vir a ser prescrito para problemas de memória pós-Covid-19

21/04/2021 0 Por Redação

 

Conhecido por ser o primeiro e único tratamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) conduzido por meio de uma experiência de videogame, o EndeavorRX pode passar a ser prescrito para pessoas que têm problemas de memória e de atenção persistentes após a recuperação da Covid-19.

Em 2020, a agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA aprovou o uso do aplicativo, criado pela Akili Interative, como tratamento digital indicado para melhorar a função de atenção em crianças de 8 a 12 anos de idade com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

A ferramenta é utilizada como parte de um programa terapêutico multidisciplinar, que inclui atendimento e acompanhamento clínico, medicação e/ou programas educacionais que tratam mais profundamente os sintomas do distúrbio. “Disponível somente com receita médica, o EndeavorRx não se destina a ser um medicamento autônomo, nem é um substituto para a medicação para TDAH de seu filho. Você deve consultar o profissional de saúde do seu filho e revisar as instruções de uso antes de usar o tratamento”, recomenda o site do aplicativo.

Inúmeros sobreviventes da Covid-19 relatam quadros de confusão mental, amnésia e dificuldade de concentração, e estudos mostram que tais sintomas podem persistir por meses após a recuperação. A neuropsicóloga da Weill Cornell Medicine de Nova York, Faith Gunning, acredita que o EndeavorRX pode conseguir aliviar essas sequelas.

Assim, Gunning está lançando um estudo envolvendo um grupo de pacientes que tiveram Covid-19 e apresentam problemas cognitivos relacionados à doença. Essas pessoas serão submetidas ao jogo, e a pesquisa verificará se seus sintomas têm evolução mais positiva do que a do grupo de sobreviventes com sintomas semelhantes que não jogam.

Como surgiu o interesse pelo tratamento com o videogame

Segundo a pesquisadora, observou-se que, entre pacientes que desenvolveram a Covid-19 de forma moderada a grave, uma porcentagem muito alta apresentou distúrbios que variaram de leves a intensos em sua função cognitiva. “Encontramos um padrão que incluía coisas como interrupção na atenção e na capacidade de fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Descobrimos que grande parte deles tinha dificuldade com a memória de trabalho, que é a capacidade de reter informações na cabeça enquanto faz outra coisa”, explicou Gunning.

Como já utilizava a ferramenta para tratamento de outras doenças, a neuropsicóloga resolveu testá-la. “O jogo melhora a capacidade de multitarefas, e observamos isso pessoas com TDAH, em adultos mais velhos, e há alguma indicação de que ajuda também pessoas com esclerose múltipla”.

De acordo com a profissional, o aplicativo também está sendo testado em adultos de meia-idade e mais velhos que têm depressão. “E o que descobrimos é que essas pessoas mostram mudanças em seus cérebros. Mostramos que há uma melhora na conectividade dentro das redes cerebrais que suportam a atenção e as habilidades executivas, e temos alguns dados preliminares que mostram uma melhora no humor”, garante.

Em relação às sequelas cerebrais de pacientes recuperados da Covid-19, Gunning acredita existirem dados suficientes que sugerem que um número significativo de pessoas que foram contaminadas terá alguns problemas cognitivos. “Estamos falando sobre a Covid-19 atrapalhar a capacidade das pessoas de funcionar em suas vidas diárias”, explica. Por essa razão, ela considera viável a realização desses estudos, que podem comprovar a eficácia do tratamento.

Embora já seja utilizado em grande escala, o EndeavorRX não é um jogo comercial e não pode ser baixado para uso recreativo, apenas utilizado para tratamentos, com prescrição médica, adquirido por meio de sua produtora.

 

*Com informações do Olhar DigitalThe Verge

*Foto: Pixabay