Reconstrução mamária ajuda na autoestima feminina
05/02/2021
A descoberta de um câncer de mama pode ser uma notícia devastadora para uma mulher e comprometer sua autoestima. Procedimentos como a reconstrução mamária, oferecida pelo Hospital de Base (HB), são importantes para ajudar no psicológico das pacientes. E o médico mastologista, cujo dia é comemorado nesta sexta-feira (5), tem papel fundamental nesse processo.
“Muitas pacientes se sentem mais encorajadas em fazer o tratamento do câncer a partir do momento em que elas sabem da possibilidade de uma imediata oncoplastia, a chamada reconstrução mamária”, explica a mastologista Angélica Rezende Esterl. Na unidade de saúde, ela é uma das responsáveis pelo procedimento, garantido pela legislação brasileira.
A Lei nº 12.802/2013 determina que a paciente tem direito à cirurgia plástica reparadora da mama, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), imediatamente após a retirada do tumor. “Se não houver condições clínicas e a oncoplastia não puder ser feita na hora, deve ocorrer tão logo a mulher apresente os requisitos necessários”, destaca Angélica.
A prerrogativa garantiu o sucesso completo do tratamento de Raissa Rocha Rossi, 33 anos, no HB. Após identificar uma protuberância na mama direita no fim do ano passado, a auxiliar administrativa confirmou um câncer maligno.
“Tive bastante suporte da equipe, que era atenciosa e calorosa”, conta. “Todos os profissionais de saúde me passaram confiança”.
Devido ao diagnóstico de tumor bastante agressivo, Raissa precisou retirar as duas mamas e, no mesmo dia da cirurgia, saiu com as próteses. “Isso foi muito importante para mim, porque, sem a reconstrução, teria mais dificuldades para passar por esse processo”, afirma.
“Isso foi muito importante para mim, porque, sem a reconstrução, teria mais dificuldades para passar por esse processo”
A retirada da mama e a posterior reconstituição são indicadas pelos mastologistas após a biópsia e a localização de lesão impalpável. “Às vezes, a reconstrução é imediata; outras, tardia”, alerta a cirurgiã plástica Márcia Moreira, que atua nos procedimentos de reconstrução mamária realizados no HB. “Isso está relacionado ao tipo de tratamento adjuvante dessas pacientes, como quimioterapia e radioterapia”.
A reconstituição simples consiste em colocar um implante de silicone, geralmente sob o músculo, simulando a forma natural da mama. Outra opção é implantar um expansor – invólucro de silicone vazio com uma válvula acoplada. “Esse material, gradualmente preenchido com soro fisiológico, é utilizado para distender pele e músculo e dar espaço suficiente para colocar um implante de silicone com volume adequado para cada caso”, resume Márcia.
Em casos mais complexos, a oncoplastia é feita pelo preenchimento da mama com tecidos da região abdominal ou da região dorsal (costas) do próprio paciente. Algumas mulheres também precisam reconstruir o complexo areolopapilar ou o mamilo. Nesses casos, pode-se usar a técnica da tatuagem ou fazer enxertos de pele e mucosas da paciente. “O médico discute com a mulher qual será a melhor opção”, esclarece Márcia Moreira.
Prótese artesanal
Colocar uma prótese de silicone não é um processo fácil e exige paciência em alguns casos. O cirurgião pode sugerir que a reconstrução seja postergada por inúmeras razões, como obesidade, anorexia ou problemas circulatórios.
Também há situações em que o organismo rejeita o corpo estranho. Foi o que aconteceu com Valdenira Maria de Souza, surpreendida com um câncer de mama aos 41 anos, em 2011. “Fiz exame de mamografia para incentivar minha mãe a fazer também”, lembra. “Mas, dois dias depois, veio o telefonema do posto de saúde: ‘Dona Valdenira, a senhora volta aqui, que deu um problema na sua mama esquerda”.
Uma ecografia confirmou um tumor maligno, próximo às costelas. Todo o tratamento foi feito no HB, com mais de 15 sessões de quimioterapia e 30 de radioterapia. Em 2013, após dez sessões de quimioterapia, Valdenira pôde ser submetida ao procedimento de retirada e reconstrução da mama comprometida. O que ela não esperava é que o câncer voltaria três anos depois.
A prótese foi retirada, e os médicos tentaram uma reconstituição com o uso da pele das costas. O corpo, no entanto, rejeitou o enxerto. “Então, eu resolvi não fazer mais o procedimento”, conta Valdenira. A doméstica buscou alternativas para suprir a ausência de volume da mama. Por indicação de amigas, conheceu a prótese artesanal confeccionada pela Rede Feminina de Combate ao Câncer, grupo de voluntários do Hospital de Base.
O material — fabricado com meia-calça, alpiste, espuma e tecido — ajudou muito na reconstrução da autoestima de Valdenira. “A prótese de alpiste me deixa melhor, porque, como eu só tenho a mama direita, se eu vestir uma roupa, fica desigual”, relata.
A iniciativa da Rede Feminina atende, em média, 50 pacientes oncológicas por mês. “Enquanto a pessoa aguarda para fazer a reconstrução, ou caso não tenha condições clínicas para receber a prótese, ela pode optar por essa alternativa”, explica a voluntária Débora Paulino. Um encaminhamento médico é necessário para a primeira retirada. Depois, um cadastro permite a troca da prótese de alpiste a cada seis meses.
“A gente faz o possível para trabalhar a questão da autoestima das mulheres e trazer um conforto para esse momento difícil”, afirma Débora. Por ser um trabalho sem fins lucrativos, os voluntários pedem à população ajuda financeira ou doação dos materiais necessários para a confecção da prótese artesanal.
“A gente faz o possível para trabalhar a questão da autoestima das mulheres e trazer um conforto para esse momento difícil”
Como colaborar
A entrega dos materiais pode ser feita na sede da Rede Feminina, na Ala de Voluntários do HB, ou no ambulatório, que fica no Corredor 5. Doações em dinheiro podem ser feitas por transferência bancária para a agência nº 4595-0, conta corrente nº 11.310-7 (Banco do Brasil). Mais informações pelos telefones (61) 3364-5467 ou pelo (61) 98580-4019.
*Com informações da Agência Brasília
*Foto: Thaís Umbelino/Iges-DF