Devido ao baixo estoque, os usuários que deveriam receber o necessário para 90 dias estão recebendo para apenas 30. A distribuição fracionada prejudica o tratamento dos pacientes, de acordo com Melissa Medeiros, médica infectologista do Hospital São José (HSJ).
“Com a Pandemia da Covid-19, os pacientes se preocuparam em ir buscar seus medicamentos justamente com medo do contágio. E se esse período diminui de 90 para 30 dias, eles precisam ir mensalmente ao local de entrega”, reforça ela. A exposição ao novo coronavírus que deveria acontecer uma vez a cada três meses, agora, tem que ocorrer uma vez por mês.
Melissa, que acompanha pessoas que vivem com HIV no estado, aponta ainda outro problema: a pressão seletiva, que ocorre quando a ausência do medicamento faz com que o vírus HIV “entenda como ele funciona” e se torne resistente. Com isso, pacientes teriam que trocar seus remédios por outros, o que atrasaria o tratamento.
“Estamos muito preocupados, pois sem o repasse, as milhares de pessoas soropositivas que vivem no estado podem perder o controle do vírus no organismo”, teme Vando Oliveira, Coordenador da RNP+CE.
No ofício enviado ao Ministério da Saúde, a Rede Nacional frisa que “em plena campanha do Dezembro Vermelho, mês de luta contra a Aids, o Governo Federal vai na contramão dos direitos das pessoas com HIV, violando leis que tanto o movimento lutou para conquistar”.
Há uma semana, o Ministério da Saúde deixou vencer uma licitação de exames de genotipagem para pessoas que vivem com HIV, Aids e hepatites virais no Sistema Único de Saúde (SUS). A genotipagem é essencial para adequar o tratamento aos pacientes. A RNP+CE vê na suspensão dos testes uma “demonstração de irresponsabilidade do Governo”.