Acusado de assédio moral e sexual, dirigente do handebol renuncia

Acusado de assédio moral e sexual, dirigente do handebol renuncia

11/12/2020 0 Por Redação

 

 

Ricardo Luiz de Souza, conhecido como Ricardinho, renunciou ao cargo de presidente em exercício da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb).

Ele foi suspenso por dois anos pelo conselho de ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB), devido a uma acusação de assédio moral e sexual durante os Jogos Pan-Americanos de Lima (Peru), em 2019, e ocupava o posto por meio de liminar.

A renúncia que foi apresentada em uma carta nesta quinta-feira (leia a íntegra no fim da matéria), coincide com a pressão do COB para Ricardinho deixar o cargo, recusando-se a liberar recursos à CBHb enquanto ele permanecesse.

A verba é necessária para viabilizar a participação do Brasil no Mundial de Handebol Masculino, em janeiro, no Egito. Sem patrocínio, após as saídas de Banco do Brasil e Correios, a confederação depende financeiramente do repasse do Comitê.

“O não repasse foi uma decisão unilateral e arbitrária do COB. Dentro da própria decisão e em outras decisões do conselho de ética se fala da autonomia das entidades e do limite de atuação do CECOB [Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil]. Não existe fundamento jurídico para isto”, argumenta Ricardinho em entrevista à Agência Brasil.

Ricardinho ocupava a direção da CBHb no lugar de Manoel Luiz Oliveira, que presidia a confederação desde 1989. Acusado de mau uso de dinheiro público na organização do Mundial de Handebol Feminino de 2011, no Brasil, Oliveira foi afastado pela Justiça e Ricardo – que era o vice imediato – assumiu o posto. Em março, Manoel foi reconduzido à presidência, por meio de liminar, sendo afastado novamente em setembro e dando outra vez lugar ao vice.

A crise da entidade atingiu a preparação das seleções, especialmente à masculina, que teve três técnicos no período. Washington Nunes foi demitido após a eliminação na semifinal do Pan do ano passado para o Chile. O espanhol Daniel Gordo foi contratado e comandou o Brasil no Torneio Centro-Sul-Americano, em janeiro deste ano. O vice-campeonato garantiu a classificação ao Mundial de 2021. Com a volta de Oliveira, Nunes retornou à equipe, mas deixou o posto assim que Ricardinho reassumiu a presidência. O atual treinador é Marcus Tatá.

A modalidade integraria a Missão Europa, iniciativa do Comitê para auxiliar a retomada da preparação de atletas brasileiros após meses de paralisação em razão da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Em meio ao entrave entre COB e CBHb, o treinamento da seleção masculina em Portugal, que seria em outubro, foi cancelado.

Pelo Instagram, Thiagus Petrus, capitão da seleção brasileira – ele ajudou a equipe a conquistar o ouro, em 2015, no Pan de Toronto (Canadá) – lamentou o impacto da crise política da CBHb no esporte.

Confira a carta de renúncia:

“É do conhecimento de todos o que ocorreu na mina vida nos últimos meses. Fui alvo de um linchamento moral que nem os piores criminosos do país sofreram. Não tive sequer o direito de cumprir a pena a que fui condenado após os recursos, direito este conferido a qualquer criminoso do país, mesmo na certeza da injustiça feita contra minha pessoa.

Apesar disso e de toda a perseguição política que sofri, acredito que consegui deixar a Confederação Brasileira de Handebol melhor do que estava quando assumi a presidência, com importantes conquistas diante de um dos piores cenários financeiros encontrado na CBHb.

Agora a verdade começa a transparecer, tanto que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro me deu o direito de retornar ao cargo do qual fui afastado. Temos uma biografia límpida construída ao longo de 30 anos dedicados ao esporte, e isto será provado em breve.

Mesmo tendo o direito de permanecer no cargo para o qual fui eleito democraticamente, assegurado por uma decisão judicial, resolvi renunciar à presidência da entidade, para que a perseguição dirigida à minha pessoa não acabe por prejudicar todo o handebol, que é um patrimônio do povo brasileiro, e que as pessoas passam, mas as instituições ficam. Muitos já passaram e a CBHb e o handebol permanecem.

Por amor ao esporte, ao qual tenho muito zelo e gratidão, além de todos aqueles que fazem e fizeram o handebol nacional, renuncio de forma irretratável e irrevogável ao cargo de primeiro vice-presidente (atualmente no exercício da presidência) da CBHb”.

 

Com Agência Brasil

Foto: Luis Macedo – Agência Camara ( Reprodução)