Estudo descreve a personalidade de quem se recusa a usar máscaras
31/10/2020
O uso de máscaras é um método recomendado por especialistas para o controle da pandemia do coronavírus. No entanto, há pessoas que relutam em usá-la.
Um estudo no Brasil teve como objetivo delinear os traços de personalidade dessas pessoas que se opõem às máscaras e constatou que elas têm um perfil antissocial. O médico peruano Elmer Huerta, consultor da CNN, analisou a pesquisa.
“Uma notícia publicada na terça-feira no jornal The Washington Post me chamou a atenção. Ela trata do fato de que algumas pessoas em alguns estados dos Estados Unidos relutam em usar máscara, apesar de a epidemia estar afetando gravemente suas regiões. Um desses estados é a Dakota do Norte.
De acordo com o doutor Christopher Murray, diretor do Instituto de Medição e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington, citado no artigo do Washington Post, menos de 50% das pessoas usam máscara em Dakota do Norte, embora o estado tenha registrado na última semana um dos maiores números de mortes por Covid-19 no mundo em relação ao seu número de habitantes.
Na opinião do doutor Murray, deveria ser o contrário: quanto mais casos de uma doença ocorrem em um local, mais as pessoas reagem e mudam seu comportamento. Nesse caso, a expectativa seria que, conforme aumentassem as infecções, internações e mortes em uma região, as pessoas usassem máscaras em maior número.
Mas por que isso não aconteceu? Será que a convicção política que polarizou os Estados Unidos que explica esse fenômeno, ou há outra coisa?
Pode haver algo relacionado, por exemplo, à personalidade dos cidadãos”, afirmou Huerta.
A personalidade de quem não usa máscaras
Um estudo brasileiro realizado de março a junho publicado em 21 de agosto na revista Personality and Individual Differences, parece trazer parte da resposta.
Depois de estudar um grupo de pessoas relutantes em usar máscaras, descobriu-se que elas tinham:
– Níveis mais baixos de empatia, que é a capacidade de perceber, compartilhar e inferir pensamentos e emoções de outras pessoas;
– Níveis mais altos de insensibilidade;
– Tendência para o engano e o autoengano;
– Comportamentos de risco.
Segundo os autores, o principal objetivo do estudo foi analisar a relação entre os traços antissociais e o cumprimento das medidas de contenção da Covid-19.
Para isso, estudaram 1.578 adultos brasileiros entre 18 e 73 anos, que responderam ao questionário PID-5, que avalia as características de personalidade e ressonância afetiva de uma pessoa.
A ressonância afetiva é chamada de impulso que um ser humano tem de agir de acordo com os sentimentos causados por outra pessoa.
As questões de estudo
Os participantes também responderam a um questionário sobre a adesão às medidas de contenção da pandemia, como o uso de máscara ou a prática de distanciamento físico.
Os resultados do estudo encontraram dois perfis de pessoas:
– um de padrão antissocial, resistente a medidas de proteção contra a Covid-19;
– um padrão de empatia entre aqueles que cumpriram as medidas preventivas contra o coronavírus.
O perfil antissocial foi relacionado a uma pontuação mais alta no questionário de avaliação de personalidade em características como:
– Insensibilidade,
– Engano,
– Hostilidade,
– Impulsividade,
– Irresponsabilidade,
– Manipulação,
– Ter comportamentos de risco.
De acordo com os autores, esses traços antissociais são característicos de pessoas com diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial.
Os resultados
Esse grupo também teve pontuações mais baixas na ressonância afetiva. Ou seja, ele não foi capaz de reagir de acordo com os sentimentos causados por outras pessoas.
Ao contrário, o perfil do padrão de empatia apresentou maior pontuação na ressonância afetiva e menor pontuação nos traços associados ao transtorno de personalidade antissocial.
Em resumo, as pessoas que relutam em usar máscaras e que desafiam as normas de prevenção teriam mais características associadas a transtornos de personalidade antissocial. E, ao não reagir aos sentimentos provocados por outras pessoas, estariam mostrando que não se importam muito com o bem comum.
Os pesquisadores acreditam que seu estudo pode ajudar as autoridades de saúde a planejar e executar campanhas educacionais voltadas para os diferentes tipos de personalidade dos seres humanos. ( Com CNN)
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