Dexametasona aumenta sobrevivência de bebês prematuros em ambientes de baixa renda
24/10/2020
Os resultados de um novo ensaio clínico, publicado nesta sexta-feira (23) na publicação científica New England Journal of Medicine, mostram que a dexametasona – um glicocorticoide utilizada para tratar várias condições, entre elas problemas reumáticos e casos graves de COVID-19 – pode aumentar a sobrevivência de bebês prematuros quando administrada a mulheres grávidas com risco de parto prematuro em ambientes de poucos recursos.
O ensaio ACTION-I, da OMS, soluciona uma controvérsia sobre a eficácia dos esteroides pré-natais para melhorar a sobrevida de recém-nascidos prematuros em países de baixa renda. A dexametasona e medicamentos semelhantes há muito se mostram eficazes para salvar vidas de bebês prematuros em países de alta renda, onde cuidados de alta qualidade para recém-nascidos são mais acessíveis. Esta é a primeira vez que um ensaio clínico provou que os medicamentos também são eficazes em ambientes de baixa renda.
O impacto é significativo: para cada 25 mulheres grávidas tratadas com dexametasona, a vida de um bebê prematuro foi salva. Quando administrada a mães com risco de parto prematuro, a dexametasona atravessa a placenta e acelera o desenvolvimento pulmonar, tornando menos provável que bebês prematuros tenham problemas respiratórios ao nascer.
“A dexametasona é agora um medicamento comprovado para salvar bebês nascidos prematuramente em ambientes de baixa renda”, disse Olufemi Oladapo, chefe da unidade de saúde materna e perinatal da OMS e HRP, e um dos coordenadores do estudo. “Mas só é eficaz quando administrado por profissionais de saúde que podem tomar decisões oportunas e precisas e fornecer um pacote mínimo de cuidados de alta qualidade para mulheres grávidas e seus bebês.”
Mundialmente, a prematuridade é a principal causa de morte em crianças menores de 5 anos. Todos os anos, cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuramente e 1 milhão morre devido a complicações decorrentes de seu nascimento precoce. Em ambientes de baixa renda, metade dos bebês nascidos com 32 semanas ou menos morrem devido à falta de cuidados disponíveis e com boa relação custo-benefício.
O estudo observa que os profissionais de saúde devem ter os meios para selecionar as mulheres com maior probabilidade de se beneficiar do medicamento e para iniciar o tratamento corretamente no momento certo – idealmente 48 horas antes do parto para dar tempo suficiente para completar as injeções de esteroides para efeito máximo. Mulheres que estão nas semanas 26-34 de gravidez têm maior probabilidade de se beneficiar com o esteroide, portanto, os profissionais de saúde também devem ter acesso ao ultrassom para determinar a data precisa de suas gestações. Além disso, os bebês devem receber cuidados de boa qualidade ao nascer.
“Quando um pacote mínimo de cuidados para bebês recém-nascidos – incluindo tratamento de infecção, suporte de alimentação, tratamento térmico e acesso a uma máquina de CPAP para apoiar a respiração – está em vigor em países de baixa renda, esteroides pré-natais como dexametasona podem ajudar a salvar a vida de bebês prematuros”, afirmou Rajiv Bahl, chefe da unidade de saúde neonatal da OMS e um dos coordenadores do estudo.
Conduzido de dezembro de 2017 a novembro de 2019, o ensaio randomizado recrutou 2.852 mulheres e seus 3.070 bebês de 29 hospitais de nível secundário e terciário em Bangladesh, Índia, Quênia, Nigéria e Paquistão.
Além de encontrar um risco significativamente menor de morte neonatal e natimorto, o estudo também descobriu que não houve aumento em possíveis infecções bacterianas maternas ao tratar mulheres grávidas com dexametasona em ambientes de poucos recursos.
Fonte: OPAS