No litoral pernambucano, estudo investigou vírus em moluscos que causa gastroenterite

No litoral pernambucano, estudo investigou vírus em moluscos que causa gastroenterite

26/09/2020 0 Por Redação

 

 

Um estudo desenvolvido na Fiocruz Pernambuco fez o primeiro sequenciamento genético do norovírus que circula no estado. Principal causador de surtos de gastroenterites, esse vírus é responsável por cerca de 200.000 mortes por ano, no mundo inteiro.

Antes dessa pesquisa, a literatura dispunha de pouca informação sobre o norovírus no Nordeste. Especificamente em Pernambuco, havia apenas com um estudo publicado em 2004, que avaliou crianças até cinco anos do Recife.

Para essa análise foram coletados 380 moluscos, sendo 260 ostras (Crassostrea rhizophorae) e 120 sururus (Mytella guyanensis). Os moluscos (in natura) vieram de pescadores (250), de vendedores das praias (110) ou foram coletados direto de áreas de mangue pela equipe da pesquisa (20), entre fevereiro e agosto de 2017. Um total de 17 praias foram visitadas: Atapuz; Barra de Catuama; Tejucupapo; Itapissuma; Itamaracá; Pilar; Barra de Sirinhaém; Boa Viagem; Brasília Teimosa; Ilha de Deus; Gaibu; Maria Farinha; Pau Amarelo; Porto de Galinhas e Tamandaré. Durante a coleta, foram registrados fatores como a temperatura da água e do ambiente; além da fonte da água consumida pela população desses locais.

O trabalho teve abrangência estadual e incluiu pacientes de todas as faixas etárias. Além do feito inédito de descrever as cepas de vírus circulantes em Pernambuco – que agrega conhecimento às caracterizações já feitas em São Paulo e Sul do Brasil – também conseguiu reunir informações clínicas e epidemiológicas completas sobre a maior parte dos casos observados.

As análises incluíram o período de 2014 a 2017 e foram desenvolvidas na Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia em Saúde da Fiocruz PE. Para a autora e doutoranda Klarissa Guarines, trata-se de um vírus com muito destaque no mundo, sobretudo após a implementação da vacina contra o rotavírus, que costumava ser o maior causador de diarreia aguda viral.

Ela defende a realização desse tipo de estudo de forma continuada, pois o norovírus tem variantes extremamente diversas geneticamente e ainda não possui imunizante disponível para a população. “Saber a evolução molecular dessas cepas, é um passo muito importante para os grupos que trabalham no desenvolvimento de vacinas”, declara.

O Laboratório Central de Saúde Pública do estado (Lacen-PE), parceiro no projeto, forneceu as amostras de pacientes com gastroenterites – um total de 1135.

Dentre elas, 125 foram confirmadas para norovírus, por meio de testes laboratoriais. A investigação permitiu reunir informações clínicas e epidemiológicas completas, no Lacen e por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), para 88 dos casos confirmados. Uma ferramenta valiosa para os profissionais de saúde, no manejo clínico dessa virose e no trabalho de prevenção.

As crianças com menos de três anos representaram 88% dos casos observados, o que corrobora dados encontrados em outros estudos. Os registros aconteceram ao longo de todos os meses do ano, mas a maioria das notificações ocorreu de dezembro a junho, no verão e outono, diferentemente de locais de clima frio, que têm maior incidência dessa doença no inverno.

Todos os pacientes estudados apresentaram diarreia. Os outros sintomas mais comuns foram vômito (68%), febre (52%) e fezes sanguinolentas (10%).

Em adultos a doença costuma ter um curso autolimitante e duração relativamente rápida, mas ela pode se apresentar de forma mais severa em crianças, idosos e imunocomprometidos, explica a mestranda Renata Mendes, coautora do estudo. “A partir desses principais sintomas gastroentéricos, a norovirose pode levar os indivíduos a uma intensa desidratação e até mesmo à morte”, complementa.

O orientado do trabalho e pesquisador da Fiocruz PE, Lindomar Pena, lembra que o norovírus é o principal causador de surtos em locais como creches, instituições de longa permanência para idosos e em navios de cruzeiro, onde leva à quarentena de passageiros e tripulantes.

Pode ser transmitido de pessoa para pessoa (por contato direto e pelo ar), pelo consumo de água ou alimentos com o vírus e por contato com superfícies contaminadas.

Para se ter uma ideia da facilidade de transmissão, o pesquisador informa que a norovirose é mais contagiosa que a gripe. “O H1N1, por exemplo, precisa de 10 milhões de vírus para iniciar uma infecção. Já o norovírus necessita de apenas 18”, compara.

No período da infecção, são expelidos de um a dez milhões de norovírus por grama de fezes ou vômitos. Se tudo isso já não fosse o bastante, esse microrganismo também é muito resistente ao ambiente.

Enquanto o vírus da gripe não sobrevive muito tempo ao ar livre, o norovírus permanece ativo por semanas em maçanetas, corrimões e outros objetos. Os cuidados preventivos, que valem para outras viroses, incluem a lavagem frequente das mãos, em especial após usar o banheiro.

A recomendação é que a pessoa com gastroenterite não prepare alimentos, para não contaminar outras pessoas e gerar novos surtos.

 

FONTE; ASCOM FIOCRUZ PERNAMBUCO