Tribunal autoriza médicos a desligar aparelhos de paciente mesmo contra vontade da família
24/02/2021
Mesmo contra a vontade da sua família, um tribunal britânico autorizou os médicos a desligar os aparelhos de uma mulher de 30 anos. Segundo o The Guardian, ela teve covid-19 e permanece em coma induzido após dar à luz.
Segundo o juiz responsável, a autorização foi concedida considerando que a questão não é a vida da paciente e sim o prolongamento da sua morte, tendo descrito o caso como “uma tragédia de dimensão quase inimaginável” e foi informado de que as hipóteses de a mulher ter uma recuperação significativa eram “zero”.
A mulher, muçulmana, casada e com uma filha de três anos, desenvolveu sintomas de covid-19 quando estava em casa e foi levada às pressas para o hospital há um mês quando estava grávida de 32 semanas.
Os médicos disseram que ajudaram a dar à luz ao bebê por cesariana logo após o internamento, mas que o pâncreas da mulher tinha parado de funcionar e que um pulmão tinha “morrido”.
Um especialista que supervisiona o tratamento da paciente diz que as tomografias não mostraram “nenhuma atividade pulmonar normal”. “As hipóteses de ela ter uma recuperação significativa são mínimas. A sensação de toda a equipe é que ela chegou a um ponto em que é, em essência, zero”, disse a um juiz.
A mulher sofria da doença de Addison um distúrbio raro das glândulas que produzem hormônios essenciais, disseram os médicos.
O juiz apreciou o caso em audiência virtual de urgência no tribunal de tutela, onde são analisadas questões relativas a pessoas que não têm capacidade mental para tomar decisões por si próprias, na noite de terça-feira.
Os chefes dos hospitais universitários do Leicester NHS Trust pediram que ele decidisse que o fim do tratamento de suporte de vida seria do melhor interesse da mulher.
No entanto, o marido e a irmã da mulher disseram que o tratamento deveria continuar por mais tempo e que a família era muçulmana e acreditava que apenas Deus poderia acabar com a vida.
“Desligar a máquina é como pedir a alguém para a matar. Quando Deus escreve a nossa morte é quando morremos”, disse a irmã, citada pelo The Guardian.
Contudo, o juiz concluiu que encerrar o tratamento seria do melhor interesse para a paciente e que ela deveria ter permissão para morrer com dignidade. “Esta família está a procurar um milagre. É uma mãe muito jovem em circunstâncias de tristeza quase indescritível”, frisou.
O juiz ouviu que a mulher sabia que estava grávida de um menino e tinha escolhido um nome para ele e que os médicos prepararam um plano de cuidados paliativos e que a família da mulher poderá ver. “O objetivo não é encurtar a vida dela mas sim evitar o prolongamento da sua morte”, sustentou.
*Redação
*Foto: Istockfotos / Getty Imagens