Estudos revelam que no Brasil, a cada 650 bebês um nasce com lábio leporino (fissura labial)

Estudos revelam que no Brasil, a cada 650 bebês um nasce com lábio leporino (fissura labial)

05/09/2020 0 Por Redação

 

 

 

  

Considerado um problema de saúde pública por ter um custo elevado e necessitar de acompanhamento desde o nascimento, o lábio leporino ou fissura labial é uma doença que acomete uma a cada 650 bebês no Brasil, segundo a OMS ( Organização Mundial da Saúde). Ela se dá por uma abertura que começa na lateral do lábio superior o dividindo em duas partes. Possuindo diversos graus de intensidade, pode afetar desde a dentição da criança até fala, além de causar distúrbios respiratórios. Essa falha no fechamento das estruturas pode atingir apenas o lábio ou se estender até o sulco entre os dentes incisivo lateral e canino, atingir o maxilar, a gengiva e chegar até o nariz.

Em entrevista exclusiva ao Portal da Saúde News, a  Doutora e Mestre em Odontologia e Saúde e especialista em Ortodontia  Inessa de Silva Barbosa (CROBA 6209) explicou como se dá a fissura labial e os possíveis tratamentos que além da Ortodontia é necessário um acompanhamento em conjunto com outras especialidades como assistente social, psicólogo, nutricionista e fonoaudiologia.

Dra Inessa também é Ortodontista do Centrinho, OSID, área de concentração em Fissuras de lábio e palato Professora dos Cursos de Especialização em Ortodontia do Instituto Prime e da SANAR

O que é fissura labial ou lábio leporino?

 As fissuras labiais, popularmente conhecidas como lábio leporino, são malformações congênitas que apresentam-se clinicamente como uma ruptura do lábio. Essa má formação, no entanto, muitas vezes não está restrita ao lábio, podendo comprometer também o rebordo ósseo, onde ficam os dentes e o palato, determinando uma comunicação da cavidade oral com a cavidade nasal. Existem vários tipos de fissura, a sua gravidade e sequelas serão determinadas pelo grupo ao qual pertencem e pelos procedimentos cirúrgicos aos quais o paciente foi submetido. Portanto, é muito importante o diagnóstico e acompanhamento desde a gestação até o final do crescimento por uma equipe multidisciplinar especializada em pacientes com fissura.

Quais as causas e como se dá?

As fissuras de lábio e/ou palato ocorrem no período embrionário, ou seja, no primeiro trimestre de gestação. Decorrem de uma falha de comunicação celular durante a formação da face, resultando em ”vazios” na formação tecidual, e portanto, na ruptura de lábio e/ou palato clinicamente visível. Cerca de 30% tem associação com outras síndromes, mas, em sua maioria ocorrem de forma isolada. Depois das alterações cardíacas, são as segundas alterações congênitas mais frequentes, sendo as mais comuns no complexo craniofacial. Isso significa que fatores externos causam alterações genéticas que irão interferir na formação facial. Embora não possam ser completamente evitáveis, alguns cuidados durante a gestação, como não fumar ou ingerir bebidas alcóolicas, além de corretas orientações nutricionais com a suplementação de ácido fólico, podem diminuir os riscos para a sua ocorrência. Um acompanhamento pré-natal desde o início da gestação é fundamental para prevenção das fissuras e seu diagnóstico precoce.

É possível identificar durante a gestação?

Sim. Por serem alterações de forma ainda durante o período embrionário, a ultrassonografia morfológica do segundo trimestre, realizada por volta das 20 semanas, já tem a condição de detectar não só a presença da fissura quanto a sua extensão. Nesse momento, devemos explicar aos pais como será o acompanhamento desse bebê, acolher e preparar a família. As fissuras têm tratamento e todas as informações devem ser fornecidas.

Como é feito o tratamento?

O tratamento irá depender do tipo de fissura, mas sempre deve ser feito de modo multidisciplinar. Existem diversos centros de referência no Brasil, sendo o maior da América Latina em Bauru, o HRAC. Aqui em Salvador, temos as Obras Sociais Irmã Dulce que oferecem o tratamento integral pelo SUS. O nosso tratamento inclui a abertura de protocolo, após a marcação de uma consulta para “caso novo”. Inicialmente ocorre o acolhimento pelo serviço social, enfermagem, psicologia, nutrição e fonoaudiologia para que todas as dúvidas sejam sanadas em relação aos cuidados e sequência do tratamento. Posteriormente é feita a consulta com o cirurgião plástico para determinação da sequência de procedimentos cirúrgicos, avaliação das condições bucais pelos cirurgiões-dentistas, além da realização de audiometria para a verificação de alterações auditivas. A idade do paciente, condição geral de saúde, tratamentos prévios e a complexidade da fissura irão determinar o tratamento individualizado que, em geral, envolve cirurgias plásticas e de enxerto, tratamento odontológico generalista e ortodôntico, além de reabilitação fonoarticulatória, auditiva e acompanhamento psicológico.

Qual o papel da ortodontia neste caso, uma vez que seja ainda necessário um acompanhamento multidisciplinar?

O ortodontista inicia o acompanhamento do paciente por volta dos 5 anos e realiza acompanhamento e intervenções ortopédicas durante todo o período de crescimento, que vão favorecer um melhor desenvolvimento do complexo craniofacial. Nós somos responsáveis para encaminhar o paciente no momento correto, às cirurgias necessárias e para as demais especialidades odontológicas. Além disso, realizamos o tratamento corretivo, o estabelecimento das corretas posições dentárias e da função mastigatória. Temos uma relação com o paciente desde a infância até a idade adulta e dependemos da interação com as demais especialidades clínicas para o sucesso do tratamento.

Quanto tempo leva em média o tratamento?

A duração do tratamento depende muito do tipo e extensão da fissura, dos tratamentos aos quais o paciente for submetido e a sequência do protocolo do tratamento interdisciplinar. Em geral, o acompanhamento se dá durante toda a fase de crescimento, mas não necessariamente utilizando aparelhos o tempo todo. O tratamento das fissuras é de alta complexidade, especialmente quando há comprometimento ósseo na região alveolar, o que interfere na movimentação dentária. Cada caso deve ser planejado individualmente.

Sabemos que no mundo atual, crianças estão mais suscetíveis a agressões físicas assim como agressões psicológicas a ponto de afetar a sua autoestima. O Ortodontista tem um papel fundamental na evolução da criança acometida por esta anomalia. Quais as recomendações que a senhora dá para o sucesso desse tratamento?  

Para que o tratamento seja bem-sucedido, inicialmente deve ser interdisciplinar. O apoio do Serviço Social e da Psicologia são fundamentais para a compreensão e enfrentamento da má formação. O Ortodontista deve estar atento às necessidades estéticas, além da reabilitação funcional. Nesse sentido, a colocação de dentes de estoque presos ao aparelho ajuda bastante na recuperação da autoestima. O estabelecimento de uma parceria com a Fonoaudiologia também é de extrema importância, já que as questões de audição e de fala também são muito sensíveis para esses pacientes. O tratamento das fissuras é realizado em equipe. Somos como uma orquestra, que deve estar atenta às necessidades do portador de fissura de lábio e/ou palato, para que o resultado do tratamento seja a reabilitação física, estética e emocional desses indivíduos.

Se você gostou desta reportagem, registre nos comentários.
*Da Redação