Pesquisadores descobrem novas espécies de peixe em Fernando de Noronha

Pesquisadores descobrem novas espécies de peixe em Fernando de Noronha

06/01/2021 0 Por Redação

 

Uma expedição marítima realizada por cientistas brasileiros e norte-americanos no arquipélago de Fernando de Noronha (PE) resultou na descoberta de ao menos quatro novas espécies de peixes, exclusivas do litoral brasileiro. Liderada pela Associação Ambiental Voz da Natureza, com patrocínio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o trabalho ocorreu em duas etapas.

Na primeira, a equipe ficou embarcada por 17 dias realizando a exploração em águas profundas. Na sequência, foram mais de 12 meses de dedicação à taxonomia das espécies, comparando características morfológicas com centenas de outros peixes para comprovar se tratar de animais inéditos para a ciência. Além das quatro descobertas, outras 15 espécies foram registradas pela primeira vez na região.

Foram descobertas uma nova espécie de peixe gobídeo (Psilotris sp.), de peixe-pedra (Scorpaena sp.), de peixe-lagarto (Synodus sp.) e de peixe-afrodite (Tosanoides sp.). O peixe-pedra é uma espécie tipicamente venenosa, que se camufla no ambiente recifal como mecanismo de sobrevivência.

O peixe-lagarto, por sua vez, também se camufla e fica praticamente imóvel à espera de indivíduos menores para abocanhar. Os novos gobídeos pertencem a um gênero raro, são pequenos e se alimentam de microrganismos, zooplanctons e microinvertebrados. Já o novo peixe-afrodite é apenas o segundo do gênero descoberto no Oceano Atlântico. O primeiro também foi encontrado no Brasil, em 2018, no Arquipélago de São Pedro e São Paulo. O estudo com os resultados da expedição foi publicado neste mês na revista científica Neotropical Ichthyology.

De acordo com o pesquisador da Voz da Natureza e da Academia de Ciências da Califórnia, Hudson Pinheiro, que chefiou a equipe, o objetivo principal da exploração foi investigar um dos ambientes mais desconhecidos da ciência: os recifes profundos. Para isso, tiveram tecnologias de ponta como aliada para descer a 140 metros abaixo da superfície e observar a biodiversidade local. “Pudemos entender melhor os ecossistemas profundos da ilha, o seu estado de preservação, as ameaças e a relação entre a biodiversidade do fundo e do raso”, explica Pinheiro, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

A expedição permitiu a caracterização dos ambientes profundos de Noronha, uma região sobre a qual ainda se sabe muito pouco. Pela primeira vez, por exemplo, cientistas mergulharam nas paredes externas do arquipélago e na quebra da plataforma (uma mudança brusca na profundidade e relevo do oceano), atravessando termoclinas, que são fronteiras entre diferentes massas d’água, com temperatura e salinidade bastante distintas. Em profundidades de 115 metros, os pesquisadores encontraram águas geladas, de até 13 °C, com uma biodiversidade completamente diferente daquela de água rasa. “Cerca de 50% das espécies que nós encontramos lá no fundo são registros novos para o arquipélago”, informa Pinheiro.

Além das quatro espécies novas – nunca vistas anteriormente e não descritas pela ciência –, outras quatro estão em análise pelos cientistas, podendo também constituir descobertas inéditas. “Encontramos detalhes, diferenças de coloração e morfologia que nos chamaram a atenção”, diz o pesquisador João Luiz Gasparini, ressaltando que “o isolamento do arquipélago promove a evolução dos peixes de forma distinta ao que acontece no continente, formando espécies endêmicas, que só existem na região mais profunda”.

Para a coordenadora de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Marion Silva, a exploração científica das águas profundas do litoral brasileiro traz elementos para a construção de políticas públicas mais eficazes de proteção do ambiente marinho e sua biodiversidade. “O Brasil possui uma extensa e larga plataforma continental composta por grande diversidade de ecossistemas, como recifes de corais, montes e bancos submarinos, mas ainda assim a maior parte das unidades de conservação marinhas têm focado na proteção de ambientes rasos”, comenta.

 

*Redação

*Foto:Pixabay