Médico que descobriu o ébola alerta para o surgimento de novos vírus letais
22/12/2020
O cientista Jean-Jacques Muyembe Tamfum, professor e uma das pessoas que descobriu o ébola, disse à CNN que a humanidade enfrenta um número novo e potencialmente fatal de vírus saídos da floresta tropical de África.
Segundo o Dn.pt, o cientista avisou que mais doenças que passam de animais para humanos vão aparecer e alertou que “uma ameaça para a humanidade”.
Não são casos raros. A febre amarela, gripe, raiva, brucelose ou a doença de Lyme (febre da carraça) são exemplos de doenças que passam de animais para humanos. Outro caso, é o vírus do HIV, que começou nos chimpanzés, sofreu uma mutação e se espalhou pelo mundo. O vírus aloja-se em um animal e é esse animal que o transmite aos humanos. No caso do SARS-Cov-2 acredita-se que tudo começou com morcegos, na China.
O cenário traçado por Jean-Jacques Muyembe Tamfum é pessimista. Acredita que outras pandemias podem acontecer em um futuro próximo. “Sim, sim, acredito que sim”, disse à CNN.
Novos vírus serão descobertos – três ou quatro por ano, a maioria oriundos de animais. Os números crescentes devem-se sobretudo à destruição dos ecossistemas e ao comércio de animais selvagens.
Os habitats são destruídos, os animais de maior porte desaparecem enquanto ratos, morcegos e insetos crescem e se multiplicam. Além de conviver com seres humanos e transportam doenças.
Foi, acredita-se, o que aconteceu com o ébola.
A descoberta do ébola
O ébola foi descoberto em 1976. O professor Jean-Jacques Muyembe Tamfum recolheu as amostras de sangue daqueles doentes que contraíam um vírus que matava 88% dos doentes e 80% dos profissionais de saúde que cuidavam deles.
As descobertas resultaram da cooperação entre o que se detectava no hospital do então Zaire e era levado para laboratórios na Bélgica e EUA.
Ainda que não se saiba exatamente como é que o ébola foi transmitido aos seres humanos, os cientistas acreditam que foi a forte intrusão na floresta tropical que levou à disseminação do ébola.
Os locais onde eclodiram surtos da doença coincidem com locais alvo de desmatamento anos antes.
Na República Democrática do Congo, Jean-Jacques Muyembe Tamfum continua o seu trabalho no laboratório que abriu as portas em fevereiro e onde dezenas de amostras de sangue são analisadas, financiados por fundos japoneses, norte-americanos da Organização Mundial de Saúde (OMS). Procuram doenças ainda desconhecidas.
“Se um vírus for detectado cedo haverá oportunidade para se desenvolver novas estratégias para combater estes patógenos”, explica o cientista.
É no processo em que os animais são vendidos para serem comidos que os cientistas acreditam que se dá a passagem destes vírus.
Essa carne é considerada iguaria e muito apreciada entre os mais ricos. Macacos, crocodilos e outros animais selvagens.
No Congo, provêm da floresta tropical e, apesar de ser meio de subsistência de muitos agricultores de pequena e média escala. Segundo os cientistas a solução é proteger os ecossistemas.
*Redação
*Foto: Pixabay