Psicóloga fala com exclusividade sobre Ansiedade e Depressão em tempos de Pandemia
24/08/2020Direto de Brasília, a Psicóloga Rachel Bitencourt falou com exclusividade ao Portal da Saúde News sobre a diferença entre ansiedade e depressão e o seu respectivo aumento no cenário atual.
Atualmente quais sãos as principais causas para o aumento da ansiedade e da depressão?
Falando do momento em que estamos vivendo com a pandemia, diante de um cenário desconhecido e da necessidade de priorizar os esforços para os cuidados com a saúde física e o combate ao vírus, a análise dos impactos do Novo Coronavírus e do isolamento social na saúde mental das pessoas acabou ficando em segundo plano.
De acordo com estudo realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisas sugerem que alterações orgânicas causadas pelo Coronavírus no sistema nervoso central, sistema imune e sistema endócrino possam estar relacionados à alguns distúrbios psicológicos.
No entanto, além das questões fisiológicas provocadas pelo próprio mecanismo da doença, a rápida disseminação do Novo Coronavírus, as incertezas sobre como controlar a doença e sobre sua gravidade, a imprevisibilidade acerca dos seus desdobramentos, mudanças nas rotinas e nas relações familiares, incertezas em relação à economia, sustento da família, são fatores que tem gerado estresse, medo e insegurança na população.
Com base em experiências particulares de vida, as pessoas podem interpretar e reagir de maneiras diferentes à uma mesma situação. A flexibilidade, a resiliência e a estrutura emocional, necessárias para lidar com o atual cenário, estão presentes de forma diferente nas pessoas, de forma que lidar com todos os desafios atuais pode não ser uma tarefa fácil para todas as pessoas. Por isso temos notado o aumento destes índices.
Existe algum método de prevenção?
Os Transtornos de Ansiedade e os Transtornos Depressivos podem ocorrer a partir da interação complexa de fatores biológicos, ambientais e individuais. Fatores como a predisposição genética, o funcionamento bioquímico do cérebro, o temperamento do indivíduo, aliados a influências ambientais, podem levar ao desenvolvimento destas psicopatologias.
Desta forma, falar em prevenção é possível a partir do incentivo à adoção de um estilo de vida saudável, da prática do autocuidado com atividade física, alimentação equilibrada, cuidados com a regularidade do sono, além dos cuidados com a mente, busca do equilíbrio entre trabalho e atividades de lazer e bem-estar, fortalecimento do ego, no sentido da capacidade do sujeito em lidar com adversidades, da autoestima, da adaptabilidade e da resiliência.
Como é possível perceber que um indivíduo possui depressão ou ansiedade?
A partir da observação de sinais e sintomas, mudança de comportamentos e observação do conteúdo da fala. São diversos os sintomas estabelecidos pelo DSM-V para os Transtornos de Ansiedade e os Transtornos Depressivo. No geral, observamos alterações no humor e no comportamento, por exemplo a grande tendência ao isolamento, rebaixamento do interesse por atividades antes comuns e reforçadoras, muita sonolência ou ausência de sono, aumento ou perda de peso, medo excessivo, hipervigilância, inquietação, tensão muscular, preocupações excessivas ou irrealistas, sudorese, palpitações (na ausência de patologia cardíaca), são exemplos de sinais e sintomas presentes.
Quais os tipos de depressão? Quais os mais acometidos entre mulheres e homens?
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM -V –inclui na categoria dos Transtornos Depressivos o Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor; Transtorno Depressivo Maior, que representa a condição clássica desse grupo de transtornos; A Distimia ou Transtorno Depressivo Persistente; Transtorno Disfórico Pré-menstrual; Transtorno Depressivo Induzido por substância/medicamento; Transtorno Depressivo Devido a Outra Condição Médica; Outro Transtorno Depressivo Especificado; Transtorno Depressivo Não Especificado, cada um deles possui critérios diagnósticos, estudos de prevalência e fatores de risco especificamente estabelecidos.
No entanto, estudos que avaliam a relação entre gênero e a depressão demonstram a prevalência dos Transtornos Depressivos em mulheres, no geral, duas vezes maior. Essa prevalência pode estar relacionada a causas culturais, já que o homem é socialmente invalidado na apresentação dos seus sentimentos e emoções, existindo, portanto, uma construção de gênero.
Observando-se outros transtornos associados ao abuso de álcool e outras drogas, por exemplo, é possível observar prevalência entre homens, o que poderia confirmar a ideia de que o homem utiliza estratégias de enfrentamento diferentes das mulheres, exteriorizando comportamentos, enquanto as mulheres interiorizariam mais os sintomas e expressariam de forma mais direta a sua tristeza. Outro aspecto que deve ser levado em consideração, é que as mulheres procuram mais frequentemente os serviços de saúde do que os homens, podendo revelar outro aspecto cultural, pelo fato de que os homens não podem demonstrar fraqueza socialmente.
Quais os tipos de depressão que mais causam fatalidade?
Transtornos depressivos não causam a morte diretamente. É possível dizer que existe uma correlação significativa entre pessoas com Transtornos Depressivos, ou que já apresentaram quadros depressivos anteriormente, e uma maior probabilidade de experenciar tentativas de suicídio. A presença do comportamento suicida está descrita na categoria de Transtornos Depressivos no DSM-V, contendo características específicas para cada transtorno, aqui citado. Ou ainda os indivíduos com depressão podem se envolver em comportamentos de risco, como o uso de substancias psicoativas, comportamentos auto agressivos, que provocam causas médicas gerais e podem levar à morte
Pode-se dizer que quem sofre de ansiedade, também sofre de depressão?
Quando você fala aqui da ansiedade, entendo que está se referindo ao Transtorno de Ansiedade, já que sintomas de ansiedade são comuns e naturais, desde que não comprometam a saúde e o bem estar das pessoas. A ansiedade é uma resposta fisiológica comum e saudável e está presente na vida de uma pessoa ao longo de toda a sua vida, podendo ser entendida como um fator natural que acompanha nossas mudanças.A ansiedade patológica é aquela que causa prejuízos à saúde e à rotina das pessoas. Sujeitos acometidos de ansiedade patológica apresentam hipervigilância, desconforto, insônia, perda de concentração, entre outros sintomas que levam a inibir o curso normal de um conjunto de atividades diárias.
Tratando-se do Transtorno, portanto, não necessariamente. Alguns sintomas podem estar presentes em ambos, no entanto são quadros diferentes. O que pode ocorrer é a comorbidade, ou seja, a coexistência de mais de um diagnóstico numa mesma pessoa.
Esse aumento em relação a ansiedade e depressão tem alguma relação com transtornos alimentares?
Os Transtornos alimentares pertencem à outra classe diagnóstica, no entanto, pode haver comorbidade entre Transtornos Alimentares e Transtornos de Ansiedade e Transtornos Depressivos. Ainda, podem ocorrer alterações alimentares em decorrência da depressão e da ansiedade como forma de comportamento compensatório ao alívio de sintomas.
Uma alimentação saudável e a prática de atividade física, mesmo que não seja em academia, pode melhorar esse quadro?
Com certeza.
Estudos tem comprovado que a alimentação saudável e de melhor qualidade pode complementar tratamentos farmacológicos e psicoterápicos, pois contribui com a saúde física e com comportamentos alimentares mais adequados, além de promover benefícios ao humor e à saúde mental.
Também já foram comprovados os benefícios da prática de exercício físico, não só para o sistema cardiorrespiratório e muscular, mas também para a função comportamental e a saúde mental. Estudos científicos evidenciaram que o exercício físico de forma voluntária, em intensidades moderadas, com atividades prazerosas, melhora o humor, a cognição, a ansiedade e a qualidade de vida em indivíduos saudáveis.
Em indivíduos com transtornos mentais, foi possível observar redução nos níveis de ansiedade e depressão, demonstrando que a prática de atividade física pode ser coadjuvante na prevenção e no tratamento. Resultados positivos foram observadas também nas esferas fisiológica, bioquímica, endócrina e psicológica.
*Rachel Bitencourt Moraes Oliveira (CRP 03/06599) é Terapeuta Cognitivo – Comportamental e também realiza atendimento on-line.
Para dicas e dúvidas basta seguir o instagram @rachelbitencourtpsi.
*Da redação
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Excelentes esclarecimentos!!!
Que legal!!! O Portal da Saúde agradece.
A melhor !!! Super profissional. Matéria excelente
Ótima matéria! Parabéns à entrevistada pelos esclarecimentos!
Massa! Obrigada. Se puder, siga a nossa página. O Portal da Saúde agradece