Hoje , 21 de setembro, dia mundial do combate a esta doença que jamais deverá ser esquecida. Infelizmente e inevitavelmente, o passar do tempo trás consigo alguns malefícios, como por exemplo a velhice. Com ela normalmente vem uma série de problemas de saúde, como a demência, que pode ser causada por vários motivos.
Ainda com causa desconhecida a Doença de Alzheimer (DA) que hoje é considerada a mais frequente forma de demência entre os idosos desperta sintomas que começam a aparecer após os 60 anos. Na maioria das pessoas e a partir dos 65 anos a proporção de idosos com a doença de Alzheimer dobra a cada cinco anos. Em média 5% das pessoas com idade entre 65 e 74 anos tem a doença.
Geralmente o primeiro sintoma a se manifestar e mais característico é a perda de memória recente. Com o avanço do quadro, sintomas mais graves aparecem, como a irritabilidade, a perda de memória remota (esquecer fatos antigos), falha na linguagem e na capacidade de se orientar no tempo e no espaço.
Além disso, o portador da DA com a progressão passa a ter comportamentos como repetir várias vezes a mesma pergunta ou fala, dificuldade para dirigir, agressividade, vontade de ficar isolado, suspeição injustificada e dificuldade de encontrar palavras para expressar ideias ou sentimentos pessoais.
Segundo o Ministério da Saúde o número de pacientes no Brasil portadores da doença é estimado em 1 milhão e 200 mil pessoas e no mundo é equivalente a cerca de 35,6 milhões. Estudos apontam que por conta do envelhecimento da população global, em 2030 cerca de 65,7 milhões de pessoas serão acometidas pela doença e ainda até 2050 esse número pode chegar a 115,4 milhões.
O especialista responsável por diagnosticar e tratar a DA (Doença de Alzheimer) é o neurologista, geriatra ou psiquiatra.
Esse diagnóstico é feito por exclusão, ou seja, após uma série de testes e exames para saber se o paciente não possui outras enfermidades que apresentam sintomatologia similar. São utilizados vários instrumentos clínicos para se chegar a essa conclusão, como testes para avaliar a memória e o estado mental, avaliação do grau de atenção e concentração e das habilidades em resolver problemas, nível de comunicação e exames laboratoriais.
Também é possível recorrer a exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética para chegar a um diagnóstico, porém só é possível determinar com precisão o Alzheimer através de um exame microscópio do tecido cerebral por necropsia ou biópsia.
O Médico Neurologista pelo HC-USP e Hospital Sírio Libanês, Dr Dr. Mateus Boaventura de Oliveira (CRM-SP 152585 RQE 70828), conversou com nossa equipe e falou um pouco sobre a doença neurodegenerativa mais frequente na população idosa.
Pesquisas evidenciam o surgimento de um exame possível de detectar o alzheimer com antecedência de anos. São tantos estudos e a descoberta de um possível exame é mais rápida do que achar a cura da doença? Por que é tão difícil achar a cura mesmo diante de uma tecnologia avançada?
DR. MATEUS – A doença de Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais frequente na população idosa. Entre alguns dos fatores de risco, podemos citar a idade e história familiar, entre outros. Se caracteriza por um declínio nas funções cognitivas, tipicamente iniciado por queixas de memória. Pode acometer progressivamente outros domínios cognitivos e outras funções neurológicas, inclusive a independência funcional.
Existem exames (marcadores) que mostram um maior risco para doença de Alzheimer. Nos casos mais comuns, não existe um “exame de sangue” ou um “gene único” para todos os pacientes, que diria “positivo”ou “negativo”. Isso não é uma realidade! Em raros casos existe uma entidade chamada “doença de Alzheimer familiar”, onde há genes, que se presentes conferem uma probabilidade de 100% do paciente possuir a doença, e de 50% do filho daquele paciente desenvolver a doença.
Na maioria dos casos realiza-se uma análise conjunta da história detalhada, do exame neurológico, exclusão de causas reversíveis de síndrome demencial, além de exames complementares, que podem variar de ressonância cerebral, PET-scan cerebral e exame do líquor (nem todos obrigatórios). Estes últimos, quando realizados em ambientes de pesquisa em pacientes controles saudáveis, podem antecipar o desenvolvimento dos sintomas. Porém não existe nenhuma recomendação ou nenhuma mudança no tratamento com a antecipação destes exames de maneira aleatória.
É possível considerar e comparar a gravidade desta doença diante de um câncer que também não tem cura?
DR MATEUS – Não é possível fazer esta comparação! A palavra “câncer” engloba diversas neoplasias malignas, com inúmeras possibilidades de tratamento, conforme o perfil celular e genético das células que se proliferam e conforme o estágio em que se diagnostica.
Assim, a depender do tipo ou estágio, é possível haver cura (através de cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia). Por exemplo, hoje existem várias mulheres que tiveram diagnóstico de câncer de mama em estágio muito inicial, consideradas totalmente controladas (em remissão), ou mesmo “curadas”.
Outros tipos de câncer em estágio mais avançado, se oferece em geral um tratamento não curativo. Já para o Alzheimer, não temos esta heterogenidade do câncer, de existir inúmeros tipos e formas de frear e curar. Como disse anteriormente, infelizmente ainda é considerada uma doença degenerativa e sem cura.
Pesquisas informaram que até 2030, a doença afetará cerca de 65,7 milhões de pessoas. Este fator está associado somente à velhice ou com o surgimento da COVID -19 isso por de triplicar. A COVID-19 pode ter alguma relação com o ALZHEIMER?
DR MATEUS – Não existe nenhuma relação biológica nem evidência científica de relação entre doença de Alzheimer e infecções virais respiratórias agudas, como seria o caso da COVID-19. O que sabemos, é que pacientes com doença de Alzheimer são idosos, e o fato de serem idosos confere mais risco de desenvolver COVID-19 grave.
Outro dado que existe, é que pacientes com COVID-19 grave que permanecem internados e sedados por períodos prolongados, podem apresentar complicações neurológicas como “delirium” (um estado confusional agudo) e AVC (acidente vascular cerebral), e a depender da gravidade e período das complicações, alguns pacientes podem apresentar baixa performance cognitiva nos meses subsequentes à alta hospitalar.
Entretanto, qualquer síndrome demencial degenerativa em geral só pode ser demonstrada após um período longo de observação, e sabemos que a pandemia é um fator recente, no qual ainda temos vários conhecimentos em construção.
Dr. Mateus Boaventura de Oliveira Médico Neurologista pelo HC-USP e Hospital Sírio Libanês
Dr. Mateus Boaventura de Oliveira
CRM-SP 152585 RQE 70828
Médico Neurologista pelo HC-USP e Hospital Sírio Libanês
Fellow clínico e pesquisa em Esclerose Múltipla e Neuromielite óptica de 1 ano em Barcelona, Hospital Vall d’Hebron.
Fellow em Neuroimunologia pelo HC-FMUSP
Doutorando com tese sobre Esclerose Múltipla e Neuromielite Óptica no HC-FMUSP
Neurologista do grupo de Esclerose Múltipla do HC-FMUSP
Neurologista do corpo clínico do Hospital Albert Einstein
Título de especialista pela Academia Brasileira de Neurologia
Membro da Academia Americana de Neurologia
A Alzheimer e seus estágios
A sua evolução ocorre de maneira lenta e inexorável, ou seja, não existe algo que possa ser feito para impedir o avanço do quadro. De acordo com especialistas, a média de sobrevida dos pacientes acometidos pelo Alzheimer pode variar entre 8 e 10 anos após diagnosticada e o seu quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios:
✓ Primeiro Estágio (inicial) – ocorre alterações na personalidade, na memória e nas habilidades visuais e espaciais
✓ Segundo Estágio (moderado) – passa a ter insônia e agitação, dificuldade para realizar tarefas do dia a dia, falar e coordenar movimentos
✓ Terceiro Estágio (grave) – apresenta deficiência motora e progressiva, dificuldade para comer, incontinência urinária e fecal
✓ Quarto Estágio (terminal) – apresenta dor na hora de deglutir, infecções intercorrente, mutismo e por fim restrição ao leito
Tratamento
No que diz respeito a métodos terapêuticos, a base da estratégia terapêutica está alicerçada em três pilares: retardar a evolução, tratar os sintomas e controlar as alterações de comportamento. Além disso, o tratamento da DA também é medicamentoso. Os medicamentos tem por finalidade minimizar os distúrbios da doença, propiciar a estabilização do comprometimento cognitivo, do comportamento e da realização da atividades simples do cotidiano, causando o mínimo possível de efeitos adversos.
A Prevenção
Ainda não foi descoberta uma forma específica de prevenção para o Alzheimer, mas de acordo com os médicos uma boa forma de inibir ou retardar a manifestação da doença é manter uma boa vida social, cabeça sempre ativa e bons hábitos, como por exemplo:
✓ Ler, escrever e fazer jogos inteligentes
✓ Não fumar
✓ Ter alimentação saudável
✓ Não ingerir bebida alcoólica
✓ Praticar atividade física regularmente
✓ Praticar atividades em grupo
Esses hábitos ajudam a prevenir ou retardar não só a doença de Alzheimer, mas outras enfermidades como hipertensão, diabetes outras doenças crônicas.
* Da redação
* Foto: Cottonbro pexels
*Instagram:@portaldasaudenews @drmateusboaventura
Curtir isso:
Curtir Carregando...