Projeto brasileiro treina cães para detectarem mais de 40 tipos de câncer de mama
02/11/2020
Dentro de um laboratório, um circuito é montado com quatro cones que oferecem diferentes amostras de odores do corpo humano.
Ônix, um pastor alemão, e Black, um pastor belga, passeiam pelo ambiente em busca de algo muito estudado pela medicina: a detecção do diagnóstico positivo de câncer através do cheiro – imperceptível para humanos, mas não para seus amigos de quatro patas. Treinados desde a ninhada, os cães oferecem 91,8% de certeza na detecção da doença.
O cenário descrito acima faz parte do projeto KDOG, que começou a ser organizado no Brasil há dois anos com o objetivo de ajudar no processo de triagem do combate ao câncer de mama em regiões mais afastadas do país, como populações indígenas e ribeirinhas. “A iniciativa não surge para substituir os protocolos tradicionais, e sim para ajudar a antecipar a constatação da doença em pessoas que não têm acesso fácil a exames como a mamografia”, explica Leandro Lopes, responsável técnico e cinotécnico do estudo no Brasil.
Embora a pesquisa ainda esteja nas fases iniciais em solo nacional, o KDOG já existe na França há sete anos, elaborado especialmente para levar chance de diagnóstico precoce para países com baixa qualidade de vida. “Na França, a cada 15 minutos de caminhada existe um local para fazer mamografia. Lá, o sistema de saúde é muito diferente”, destaca Lopes, que teve a oportunidade de assistir o avanço da iniciativa no exterior e percebeu que já tinha passado da hora de trazê-la ao Brasil.
“Há dois anos entramos em contato com eles e, no ano passado, conseguimos a parceria”, diz o pesquisador, que atualmente trabalha em Petrópolis, Rio de Janeiro, junto com os médicos oncologistas Carla Ismael e Christian Domenge, vinculados à Sociedade Franco Brasileira de Oncologia (SFBO). “Quando eu cheguei no laboratório da França, a primeira detecção que assisti foi muito marcante. Tive a certeza daquilo que vinha estudando e no qual acreditava há anos.”
“Nós ensinamos ao cachorro que, se ele encontrar aquele odor, vai ganhar um brinquedo ou um petisco. É um treinamento lúdico focado na felicidade e no bem-estar do animal”, ressalta Lopes, que demonstra naturalmente seu apego com os cães com os quais convive desde que eram filhotes. “Eu sempre friso isso: treinamos sem nunca tirar a infância deles. Sempre com alegria e respeitando o tempo de vida. Afinal, temos muito que agradecer a eles.”
Com a odorologia canina, os animais são capazes de identificar diabetes, vírus como o da Covid-19 e mais de 40 tipos de câncer de mama em estágio inicial – que é o foco atual do projeto KDOG. “Nossa meta agora é o câncer, mas com certeza pensamos em outras análises para o futuro”, diz Lopes, destacando que, por enquanto, a meta é alcançar a quarta fase da iniciativa – a publicação do estudo científico para que o projeto seja implementado no sistema de saúde público com rapidez e qualidade. “Vamos conseguir salvar muitas vidas com nossos amigos de quatro patas”, finaliza. ( FORBES)
Foto; Pixabay