Esperma congelado é tão eficaz quanto recém-coletado para inseminação, afirma estudo
05/07/2022
O congelamento do sêmen, também chamado de vitrificação, é uma técnica de preservação da fertilidade masculina. O procedimento pode ser indicado para pacientes submetidos ao tratamento de doenças como o câncer ou cirurgias que oferecem risco de lesão dos testículos.
Por ser uma metodologia relativamente recente, com diversas pesquisas em andamento, o prazo máximo de congelamento do esperma é considerado indeterminado. Um estudo realizado por pesquisadores dos Estados Unidos apontou que o sêmen congelado permanece tão eficaz quanto o material recém-coletado para tratamentos de inseminação.
Para chegar ao resultado, especialistas do Hospital Geral de Massachusetts e da Harvard Medical School analisaram 5.335 ciclos de inseminação intrauterina realizados entre 2004 e 2021 no serviço de saúde do hospital. Os dados foram apresentados nesta segunda-feira (4) na 38ª reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.
O estudo analisou uma série de resultados após tratamentos de fertilidade com esperma novo ou congelado, que incluiu um teste de gravidez positivo, gravidez clínica e taxa de aborto espontâneo. O estudo também verificou o tipo de estimulação ovariana dada ou não às mulheres antes do tratamento.
Os resultados apontaram taxas de gravidez clínica semelhantes entre as pacientes que usaram amostras recentes e congeladas.
Pequenas diferenças foram observadas em um subgrupo de pacientes com estimulação ovariana pré-tratamento com medicamentos orais (citrato de clomifeno ou letrozol). No entanto, quando a análise se limitou a um primeiro ciclo de tratamento, essas diferenças deixaram de ser evidentes segundo os pesquisadores.
Segundo o artigo, a única diferença mais significativa identificada foi um tempo até a gravidez ligeiramente maior no grupo que utilizou esperma congelado em comparação com o recente.
“Embora subgrupos específicos possam se beneficiar da utilização de esperma novo e o tempo de gravidez possa ser menor com esperma recente do que congelado, as pacientes devem ser aconselhadas sobre a não inferioridade do esperma congelado. Nenhum efeito prejudicial da criopreservação de esperma nos resultados da inseminação intrauterina foi observado”, afirmou Panagiotis Cherouveim, pesquisador do Hospital Geral de Massachusetts e de Harvard.
Preservação da fertilidade
A fertilização in vitro, criada há quase 45 anos, ainda é uma ferramenta disponível para quem apresenta uma dificuldade maior de gravidez natural.
“A amostra de esperma é preparada em laboratório e o médico, com uma pequena sonda, coloca o esperma dentro do útero da mulher, através do colo do útero. Os espermatozoides ‘nadam’ dentro do útero e vão até as trompas, onde vão encontrar os óvulos que foram produzidos e serão fertilizados”, explica Silvana Chedid Grieco, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo.
O congelamento do esperma permite a preservação da fertilidade por homens que desejam adiar o momento de ter filhos ou que serão submetidos a tratamentos que podem prejudicar a formação dos espermatozoides, como terapias contra o câncer.
O material é passa pela triagem de infecções antes de ser utilizado, o que pode levar até seis meses. Com o objetivo de reduzir a preocupação de pacientes e de especialistas sobre a viabilidade dos espermatozoides congelados, pesquisas em andamento avaliam a motilidade, estrutura e conteúdo de DNA.
A médica ginecologista Natália Ramos Seixas, da clínica de saúde feminina Oya Care, explica que o congelamento de óvulos, método utilizado por mulheres que desejam adiar a maternidade, é seguro e eficaz e deixou de ser considerado experimental.
“Os estudos trazem de evidência científica que por dez anos esses óvulos se mantêm saudáveis mas, na prática, eles se mantêm saudáveis ‘ad aeternum’. Congelamento é uma técnica antiga, usada no início. Hoje, chamamos de vitrificação de óvulos, um congelamento rápido. Os estudos vão sair ao longo das próximas décadas, mas com a prática clínica estamos percebendo que esses óvulos não envelhecem”, afirma Natália.
Segundo a especialista, além de permitir a postergação da maternidade, o procedimento reduz os riscos de doenças genéticas.
*Com CNN Brasil
Foto: Getty Images